Título: Príncipe espanhol ataca austeridade
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Economia, p. B1

Na OIT, Felipe de Bourbon dá recado a Berlim

Ele nunca teve de buscar trabalho na Espanha, e os mais cínicos alegam que ele nunca nem sequer trabalhou em seus 44 anos de vida. Mas, diante da crise, até o herdeiro do trono espanhol, o príncipe Felipe de Bourbon, adota um discurso que faria inveja a sindicalistas e dá sua receita de como lidar com o desemprego.

Ontem, o príncipe foi à Organização Internacional do Trabalho (OIT) e discursou perante representantes de trabalhadores, governos e empresários. Defendeu a adoção de políticas de crescimento e criticou aqueles que apenas apostam na austeridade, num recado à chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

"As crises anteriores nos ensinaram que entre a recuperação econômica e a recuperação do trabalho há um hiato considerável", disse, diante de uma taxa de quase 25% de sua população desempregada e de 52% dos jovens sem trabalho.

"É necessário acompanhar as medidas para impulsionar o crescimento como outras que permitam frear a destruição de emprego e que garantam a proteção social às pessoas mais vulneráveis", defendeu o monarca, como se fosse um sindicalista.

Para o príncipe espanhol, está na hora de um "esforço comum" entre países. "Resulta inadiável encontrar de forma conjunta alternativas que nos permitam deixar para trás a crise", disse, em um recado entendido como um apelo para que Berlim entenda que socorrer a Espanha não significa somente impor suas receitas.

"Precisamos de medidas para impulsionar o bem-estar, o crescimento econômico e oferecer soluções capazes de criar empregos, especialmente para os jovens" disse.

A monarquia espanhola não está no auge de sua popularidade. O marido de uma das princesas está sendo investigado por corrupção, o rei causou mal-estar ao deixar Madri e ir caçar na África e as contas da realeza deixaram a população indignada.

Ontem, o príncipe preferia falar como se tivesse alguém da família sem trabalho. Qualificou de "inaceitável" o nível de desemprego e defendeu ações para atender aos mais pobres.

"Em um momento como o atual, devemos atuar e nos ocupar especialmente daquelas pessoas sem trabalho, daquelas famílias que têm todos os seus membros desempregados e, em particular, o futuro dos jovens que não encontram oportunidades de trabalho", concluiu.