Título: Pressionada, Espanha discute resgate dos bancos com a União Europeia
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Economia, p. B1

Rumores na Europa são de que o país formalizaria o pedido durante reunião de ministros de Finanças da zona do euro; Madri desmente

O governo da Espanha afirmou ontem à noite, em Madri, que ainda não concluiu o eventual pedido de resgate à União Europeia e ao Banco Central Europeu (BCE) para a recapitalização generalizada de seu sistema financeiro. A informação foi divulgada depois de rumores sobre um pedido iminente de um resgate, que poderia variar entre € 40 bilhões e € 50 bilhões.

Enquanto o governo de Mariano Rajoy hesita, França, Reino Unido e Estados Unidos aumentam a pressão sobre a Alemanha de Angela Merkel.

As especulações sobre o eventual pedido de socorro surgiram na manhã de ontem. Segundo as agências France Presse (AFP) e Reuters, executivos do governo alemão e da União Europeia teriam confirmado uma teleconferência do Eurogrupo, o fórum de ministros de Finanças da zona do euro, neste fim de semana. A reunião teria como objetivo receber do ministro da Espanha, Cristóbal Montoro, o pedido oficial de resgate. O anúncio do socorro seria feito até a tarde de hoje.

Depois de desmentir a informação, Madri mudou o discurso à noite, quando a vice-premiê, Soraya Sáenz de Santamaría, afirmou ao jornal El País que "não há decisões tomadas" e seria necessário "respeitar os procedimentos" na definição do valor final do pacote. De acordo com Soraya, Madri só aceitaria os recursos após a avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), prevista para segunda-feira, e de auditorias independentes, que só deve ser finalizada em 10 a 15 dias. Na quinta-feira, dirigentes do Fundo em Washington fizeram uma previsão provisória de que o socorro aos bancos espanhóis custaria € 40 bilhões.

Segundo Soraya, "não há decisões em nenhum sentido", mas os indícios apontam um resgate iminente. "Neste momento, o governo está trabalhando com o FMI e os avaliadores sobre a cifra que o sistema financeiro necessita para levar a cabo o completo saneamento do setor." A vice-premiê ressaltou ainda que um eventual resgate seria feito "da forma mais direta".

Contra as pressões de Berlim e de Bruxelas, o governo de Mariano Rajoy hesita em formalizar o pedido de socorro se o dinheiro do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES) tiver de transitar pelo Tesouro antes de chegar aos bancos. Isso porque o socorro não seria diretamente aos bancos, mas ao governo, que usaria os recursos para recapitalizar as instituições financeiras.

Rajoy teme que a economia espanhola sofra intervenção de técnicos da UE, do BCE e do FMI, a troica, como ocorre na Grécia, Irlanda e Portugal. A avaliação do governo é de que esse modelo de auxílio retira autonomia e tende a aprofundar o arrocho, em um momento em que a Espanha já tem 24,44% da população ativa desempregada.

Apoios. O presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, já informaram Rajoy que apoiam o resgate direto aos bancos, sem passar pelo governo. Ontem, Hollande e Rajoy receberam o suporte explícito de Barack Obama. Em conferência telefônica, o presidente francês e o americano teriam concordado em "reforçar a estabilidade e a governança da zona do euro".

As novas demonstrações de apoio dos EUA à França deixam a Alemanha de Merkel ainda mais pressionada. Em sua última edição, a revista The Economist ironiza a inércia alemã mostrando um navio afundando e a pergunta: "Já podemos acionar os motores, sra. Merkel?".