Título: A ata não mudou, mas a realidade abre novos espaços
Autor: Nakagawa, Fernando ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Economia, p. B4

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, divulgada ontem, é quase uma reprodução da anterior. Mas, entre uma e outra, abriu-se um bom espaço para que a taxa básica de juros recue mais do que já era previsto.

Se, da ata de abril para cá, tudo mais permanecesse constante, o roteiro para a ação do Banco Central estaria bem desenhado. Em maio, o Copom cortaria a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, como de fato o fez, e promoveria mais uma redução de 0,5 ponto em julho, encerrando o atual ciclo de cortes com os juros básicos em 8% ao ano.

Ocorre que, no período entre uma ata e outra, a economia brasileira confirmou a parada no primeiro trimestre de 2012 e deu sinais de que a recuperação estava muito mais lenta do que antes se imaginava. Depois da expansão do PIB em apenas 0,2%, no primeiro trimestre, as projeções para o crescimento da economia em 2012 recuaram ainda mais, rodando hoje num intervalo entre um piso abaixo de 2% e um teto inferior a 3%. Refletindo em parte essa freada, a inflação em maio surpreendeu, registrando evolução sobre abril bem mais comportada do que as estimativas.

Além disso, no mesmo intervalo de tempo, a percepção das tendências na economia global - agora incluindo os grandes emergentes, a começar da China, que escaparam da onda de recessão em 2008-2009 - piorou muito. Mesmo sem um colapso, tornou-se mais nítida a perspectiva de contração geral - nos investimentos, no comércio internacional e nas cotações das commodities.

Tanto o quadro doméstico quanto o externo, neste momento, contribuem para a formação de um vetor desinflacionário, propício à extensão além de julho do ciclo de cortes nos juros básicos.

Há, porém, outros elementos que se alinham num vetor que opera em direção contrária, reunindo pressões sobre os preços. Não só a forte desvalorização cambial ainda não transferiu inteiramente seus impactos para os preços, mas a própria taxa de juros mais baixa tende a contribuir para, em algum momento, animar um pouco a demanda, no que será auxiliada pelos estímulos diretos promovidos pelo governo.

Já há até quem aposte numa Selic de 6% no fim do ano. Mas a "parcimônia" com que o Copom promete revestir suas próximas decisões sugere que se deve ir um pouco mais devagar com o andor. Tudo, nessa questão, vai depender, no fim das contas, da velocidade da resposta da economia aos diversos estímulos que está recebendo, a começar dos juros cadentes.