Título: Analistas reduzem projeções para a taxa Selic
Autor: Nakagawa, Fernando ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Economia, p. B4

Após a ata do Copom, instituições trabalham com a expectativa de mais dois cortes de 0,5 ponto até o fim do ano

Pelo menos quatro instituições privadas reduziram suas projeções para os juros básicos nos próximos meses após a divulgação ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

As revisões levam em conta o fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre (crescimento 0,2% sobre o quarto trimestre de 2011) e, agora, a sinalização do Banco Central de maior preocupação com a desaceleração da economia. Reduziram as expectativas em relação à Selic em 2012 a Santander Asset Management, a Bradesco Corretora, o Barclays Capital e o BTG Pactual.

O economista-chefe da Santander Asset Management, Ricardo Denadai, que até hoje mantinha em seu cenário corte de 0,5 ponto em julho e Selic encerrando o ano em 8%, já contempla um corte adicional de 0,5 ponto em agosto, levando a Selic para 7,5% ao ano.

A avaliação dele é de que a ata trouxe poucas mas relevantes mudanças no sentido de ampliar para agosto o ciclo de corte da Selic. Denadai disse que o BC passou a ver um maior grau de contágio da economia doméstica pela deterioração da crise externa.

Em relatório distribuído a clientes, a equipe de analistas da Bradesco Corretora, comandada pelo economista Dalton Gardimam, também passou a trabalhar com mais dois cortes de 0,5 ponto da Selic - um em julho e outro em agosto.

O Barclays Capital informa em relatório aos clientes que revisou sua projeção em relação aos juros básicos para 7,5% em agosto. Ou seja, além do corte de 0,5 ponto já previsto para julho, a instituição considera agora mais uma redução na mesma magnitude na reunião do colegiado em agosto.

"A ata do Copom reproduz basicamente a mesma mensagem da ata de abril. Não expressa preocupação a mais sobre o panorama global, mas reconhece que a recuperação da atividade doméstica continua muito fraca e, mais importante, que apesar da depreciação do real está vendo melhor balanço de riscos para as perspectivas e inflação em 2012", diz o texto.

No BTG Pactual, a equipe comandada pelo ex-diretor do Banco Central Eduardo Loyo informa aos clientes que acaba de revisar a projeção de Selic para 7,5%, com um corte de 0,5 ponto em julho e outro em agosto. A justificativa para o corte adicional em agosto é que as previsões do Copom na ata incorporam as projeções positivas de queda da inflação, com a desvalorização da moeda aparentemente compensada pela fraqueza da atividade decorrente da crise global.

Crise externa. Pelo fato de o cenário na Europa estar ainda mais turvo do que há 45 dias, o Copom decidiu manter boa parte do que justificou sua decisão sobre a Selic na reunião de abril, para ter mais liberdade para agir diante do agravamento da crise externa, comentou a professora da PUC-RJ Monica Baumgarten de Bolle, diretora do instituto de economia Casa das Garças.

Para ela, o que mais chamou a atenção na ata divulgada ontem foi o fato de o BC não usar mais a avaliação segundo a qual a situação externa tende a afetar o Brasil em um quarto do que foi registrado na crise de 2008.

Para a professora, pelo fato de a solução da crise na Europa ser muito complexa e de repercussões imprevisíveis, o BC está alinhado à avaliação dos principais bancos centrais no mundo, como o Federal Reserve.

Ela destacou que o depoimento do presidente da instituição americana, Ben Bernanke, anteontem no Congresso dos EUA, indicou que a postura do Fed é de pura cautela e permanece em estado de apreensão sobre a situação da zona do euro. / COLABOROU RICARDO LEOPOLDO

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