Título: Ata do Copom indica juros mais baixos
Autor: Nakagawa, Fernando ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2012, Economia, p. B4

Agravamento da crise europeia e o lento crescimento da economia brasileira abrem caminho para novas reduções do juro, segundo o BC

A piora da situação na Europa e a avaliação de que a recuperação da economia brasileira tem sido bastante gradual abrem caminho para que os cortes de juro continuem. O recado foi dado ontem na ata da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). No texto, o Banco Central (BC) sinaliza que, com "parcimônia", a taxa Selic pode seguir em queda porque não há preocupação com a inflação.

Analistas, que previam apenas mais uma redução em julho, já falam em dois cortes e juro de 7,5% ao ano em agosto.

A diminuição da taxa em 0,5 ponto na semana passada, para 8,5% ao ano, levou o juro para o menor patamar da história e disparou o gatilho que reduz a rentabilidade da poupança. Para explicar a decisão, o Copom demonstrou preocupação extra com os desdobramentos da crise internacional.

Além da piora já conhecida do comércio exterior, aplicações financeiras e oferta de crédito, o texto destaca que o Brasil também passou a sofrer com a deterioração da confiança dos empresários. O item, diz o BC, é um canal "de grande importância" de possível contaminação dos efeitos da turbulência para o País. O problema da falta de otimismo é que isso diminui os investimentos.

No Brasil, essa contração já é notada e, inclusive, preocupa o governo. No primeiro trimestre, o dinheiro gasto com novos projetos, como a construção de uma fábrica ou expansão de uma linha de montagem, caiu 1,8% na comparação os últimos três meses de 2011. O dado parece ter acendido a luz amarela.

Com a nova via de contaminação, a ata deixou de trazer a análise de que a atual crise terá, para o Brasil, efeito equivalente a um quarto dos problemas vividos entre 2008 e 2009. Tal avaliação era repetida desde agosto de 2011. A retirada dessa percepção pode ser lida como a possibilidade de que as consequências da atual crise podem ser maiores que o originalmente previsto.

Nesse cenário, o Brasil sofre cada vez mais. Em meio à queda dos investimentos, o BC diz que a atividade econômica tem frustrado previsões. "O Copom avalia que a desaceleração da economia brasileira no segundo semestre do ano passado foi maior do que se antecipava, e que a recuperação tem se materializado de forma bastante gradual."

Somados, o efeito da crise externa e a economia interna que patina fizeram com que a previsão do BC para a inflação em 2012 diminuísse na comparação com abril para um patamar em torno de 4,5%, exatamente no centro da meta para o ano. Quando o resultado do IPCA de maio foi divulgado esta semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou que a inflação já estava mais fraca do que no mesmo período de 2011, e que isso daria mais liberdade para o BC seguir com a redução de juros.

Uma das explicações para a expectativa de que o aumento de preços será menos forte é o efeito da fraca demanda da Europa e Estados Unidos por produtos básicos, as commodities, como soja e minério de ferro. Com menos compradores, esses produtos tendem a subir menos ou até ficarem mais baratos. Essa tendência é potencializada pela desaceleração da economia chinesa, fato destacado na ata.

Revisão. Diante do quadro, pelo menos quatro instituições reduziram ontem a previsão para o patamar da Selic no fim do ano: Santander Asset Management, a Bradesco Corretora, o Barclays Capital e o BTG Pactual.

Todas cortaram a estimativa de 8% para 7,5%. Para o grupo, a taxa deve cair 0,5 ponto em cada uma das duas reuniões previstas para julho e agosto.

Um dos que mudaram a previsão, o economista-chefe da Santander Asset Management, Ricardo Denadai, explica a alteração pela ata que revelou piora na avaliação quanto ao grau de contágio do Brasil pela crise internacional.

O economista sênior do BES Investimentos do Brasil, Flávio Serrano, prevê apenas mais um corte em julho, mas já considera a possibilidade de redução em agosto. Para ele, a ação do BC daqui a dois meses ainda dependerá dos desdobramentos do cenário, principalmente internacional.

"Os juros devem ficar entre 7,5% e 8% no final do ano". Além disso, Serrano salientou que a inflação sob controle dá mais confiança para o BC acreditar que sua estratégia de atuação está correta. Resta saber, ponderou, até quando a inflação permanecerá em níveis mais baixos./COLABOROU FRANCISCO CARLOS DE ASSIS