Título: Inflação recua mais do que o previsto e analistas projetam juro de até 6% este ano
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2012, Economia, p. B1

Com deflação em alguns itens, IPCA caiu de 0,64% em abril para 0,36% em maio e levou economistas a reverem suas projeções para o ano

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), veio menor do que o esperado em maio. A alta de preços recuou de 0,64% em abril para 0,36%, o que foi comemorado pela equipe econômica do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que a taxa de inflação em queda abre espaço para uma taxa de juros menor.

Economistas refizeram suas previsões para a inflação no ano, mas também para os novos cortes na taxa básica de juros, Selic. Segundo as avaliações atualizadas, a Selic pode cair para 6% ao ano ainda em 2012. A expectativa por uma taxa menor também se refletiu nas apostas em juros no mercado futuro.

"O corte nos juros é meio que necessário, porque as medidas que o governo tomou precisam de complementaridade da política monetária. O cenário externo piorou muito e a atividade doméstica ainda está muito fraca", disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que aposta em mais cinco cortes da Selic de 0,5 ponto cada, para uma taxa de 6% ao ano.

Deflação. A forte redução no IPCA foi provocada por aumentos mais modestos no cigarro, nos remédios e nas despesas com empregados domésticos, mas também pela deflação em itens como as passagens aéreas, 10,85% mais baratas. Como resultado, a inflação acumulada em 12 meses caiu para 4,99%, mantendo a trajetória de convergência para o centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%.

"O resultado de hoje (ontem) reforça a visão do Banco Central brasileiro de uma inflação convergente para o centro da meta. Isso, combinado aos dados fracos da atividade econômica e o alto nível de incerteza global apontam na direção de maior afrouxamento monetário", avalia o chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker.

Serviços. Outra surpresa foi o freio na inflação dos serviços, que teve a menor alta desde outubro de 2009, ao cair de 0,76% em abril para 0,21% em maio. O IBGE acredita que a desaceleração possa ter sido causada por um esgotamento no ritmo de alta dos preços, ou pelo comprometimento da renda.

"Há muito tempo a gente não observava uma redução dessa nos serviços. Pode ser consequência ou de saturação do preço, que já avançou tanto que não consegue aumentar mais, aliado a um processo de inadimplência, ou de transferência de gastos a outros setores, como a compra de um automóvel", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Houve redução nos aumentos de aluguel, condomínio, conserto de automóvel, médico, dentista e serviços pessoais. Além disso, ficaram mais baratos os serviços de mudança, transporte escolar, clube e motel. Os transportes contribuíram, com deflação de 0,58% em maio. Além das passagens aéreas, houve queda nos carros usados (1,4%), etanol (1,34%) e gasolina (0,52%).

Na direção oposta, os aumentos de alguns importantes itens da cesta básica impediram que a inflação desacelerasse mais. Em maio, ficaram mais caros o feijão mulatinho, o feijão carioca e o arroz, mas também o óleo de soja, o café moído, o tomate, a cebola, o alho e a cerveja.