Título: Brasil admite que negociações não serão concluídas hoje
Autor: Escobar, Herton ; Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2012, Vida, p. A21/22

O embaixador André Corrêa do Lago diz que transferência de recursos e tecnologia dos países ricos bloqueou debate

O governo brasileiro já admite que as negociações preliminares que buscam finalizar o rascunho do documento da Rio+20, que deveriam terminar hoje, vão continuar pelos próximos dias. A informação foi passada ontem à noite ao Estado pelo embaixador André Corrêa do Lago, responsável pelas negociações do País.

Hoje é o prazo final para os diplomatas fecharem o texto que será apresentado aos chefes de Estado na cúpula final de alto nível, que ocorre entre os dias 20 a 22. Mas a falta de consenso em vários temas, principalmente em relação aos chamados meios de implementação do desenvolvimento sustentável - que, na prática, significam transferência de valores e de tecnologia -, tornou impossível a conclusão dos trabalhos no prazo inicial.

Neste ponto mais polêmico, o grupo do G-77 mais China (que representa mais de 130 nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil) bloqueou as negociações por "considerar que os países desenvolvidos estão querendo muitos avanços nos esforços de sustentabilidade dos países em desenvolvimento, mas não apresentaram nada de novo em recursos financeiros e tecnológicos", afirma Lago. "Eles disseram que não continuariam a negociar a economia verde enquanto não vissem algum tipo de movimento dos países desenvolvidos com relação à questão financeira e tecnológica."

A partir de amanhã, o País assume a liderança dessa nova etapa de discussões buscando ouvir os demais países e estabelecer consensos. Como essas reuniões não estavam previstas - no período ocorrem os diálogos sustentáveis da sociedade civil -, ainda não se sabe bem como o Brasil deve intervir. "Mas provavelmente faremos consultas com os países nesse período para ver de que maneira a gente pode chegar a um texto final. Temos de aproveitar que temos esses quatro dias para tentar avançar."

Questionado sobre como o Brasil pode ajudar a promover avanços que os facilitadores dos grupos de discussão não conseguiram, Lago não quis detalhar um formato específico nem em eventuais cartas na manga que o País possa ter, mas disse que às vezes o que funciona é chamar um pequeno grupo de canto.

Sem microfone, falando de modo mais informal, pode ser mais fácil avançar. Ele acredita que é isso que deve acontecer com a questão dos meios de implementação. "O G-77 vai ter um pequeno grupo que vai discutir uma contraproposta e isso vai ser levado para uma nova reunião amanhã (hoje)."