Título: Patriota vê risco de barreiras comerciais
Autor: Escobar, Herton ; Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2012, Vida, p. A21/22

Para ministro, agenda de desenvolvimento sustentável não deve criar "obstáculos"

Diante de uma plateia de empresários na Rio+20, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, afirmou que é preciso estar atento para não transformar objetivos futuros de desenvolvimento sustentável em barreiras comerciais. A afirmação foi feita em resposta à preocupação externada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, de que seja criado um "protecionismo verde".

"Temos de advertir sobre esses riscos. Mas há um sentimento disseminado, não só no Brasil, de que estamos numa agenda positiva e não podemos criar condicionalidades, empecilhos e obstáculos", disse. O ministro destacou que a agenda na Rio+20 é de objetivos que congreguem e, sobretudo, deem atenção às necessidades de países mais pobres.

O setor privado brasileiro participou ativamente das discussões para o documento entregue ao secretariado da ONU para a discussão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS ) na Rio+20.

Apesar das dificuldades nas negociações e da crise internacional, Patriota diz que a Rio+20 já pode ser considerada histórica, não só pelo número de representantes governamentais e delegados, mas pelo modelo de inclusão, com os diálogos e eventos paralelos da sociedade civil.

A CNI entregou ao governo um documento que relata iniciativas de 16 setores, que representam 90% do PIB industrial, para reduzir o impacto de suas atividades no meio ambiente. Pelo texto, as iniciativas nas duas últimas décadas resultaram em "fábricas menos poluentes e mais eficientes no consumo energético, que encontraram soluções para o uso da biodiversidade".

No evento, que reuniu centenas de empresários, o presidente da CNI ressaltou que o governo do País, e não a indústria brasileira, deve ser responsabilizado pela poluição no Brasil. "Hoje quem polui é a população, a sociedade", disse, afirmando que é preciso cobrar investimentos públicos em saneamento, mobilidade urbana e infraestrutura.

Questionado se a indústria brasileira é poluidora, ele afirmou que as empresas vêm trabalhando para reduzir os impactos ambientais de suas operações para atender uma legislação rígida que "fecha fábricas" e também ao consumidor, que hoje prefere produtos sustentáveis. "Não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas de sobrevivência."

Transição. A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, defendeu que a proposta de criação de um fundo global para financiar a transição para uma economia verde seja analisada com olhos voltados para o médio e longo prazos. "A Rio+20 acontece no curto prazo, mas tem mandato para buscar soluções permanentes e concretas de médio e longo prazos", disse a ministra.

No evento, o economista e professor de Harvard Dani Rodrik comentou que as dificuldades orçamentárias dos países da Europa impedirão que a ideia de criação do fundo avance na conferência. A proposta do G-77, bloco que reúne nações em desenvolvimento mais a China, é de criação de um fundo internacional de US$ 30 bilhões para financiar o desenvolvimento sustentável. "Acho que é uma ideia muito boa, mas, na prática, tornou-se mais remota em razão da crise fiscal dos países avançados."

Crítico assumido de políticas de cooperação internacional, ele lamentou a possível frustração do fundo por acreditar que o mecanismo é interessante no caso do financiamento de tecnologias verdes e modernização tecnológica de antigas fábricas.

Questionada se os países desenvolvidos estariam irredutíveis em ceder em algumas das negociações em andamento na Rio+20, a ministra negou. "Cedem. Você já participou de alguma discussão internacional? Parece que não", disse ela.

A norueguesa Gro Brundtland, criadora do conceito de desenvolvimento sustentável, alertou que na negociação em Copenhague, há três anos, proposta semelhante não progrediu por causa da crise iniciada com a quebra do Lehman Brothers. Apesar disso, Gro está otimista. "Creio que vá progredir. Talvez não tanto quanto imaginamos, mas conseguiremos algo razoável."