Título: IOF é só a 1ª barreira a cair, avalia mercado
Autor: Decloedt, Cynthia ; Castro, Fabrício de
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2012, Economia, p. B3

Para analistas, medida sinaliza que governo aceita entrada de mais capital para estimular economia

A decisão do governo de desmontar uma das travas impostas à entrada de dólares no País deixou a sensação no mercado que outras barreiras poderão ser revistas. "O decreto tem por objetivo de facilitar as condições ao crédito externo. Como consequência, deve também aumentar a entrada financeira. Acreditamos que tal medida sugere que o governo está inclinado a utilizar outras medidas para estimular a atividade econômica, mesmo que seja necessário tolerar maior entrada de capital", afirmou o Credit Suisse, em nota a clientes.

A revogação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos tomados no exterior com prazo de até cinco anos representa a primeira reversão de medida cambial desde que o governo, no início do ano passado, declarou guerra à apreciação do real. Ao longo de 2011, a ameaça de uma valorização exagerada do real fez com que o governo anunciasse taxações e limitasse a atuação dos bancos no câmbio, em meio ao forte fluxo de recursos para o Brasil, que prejudicava o desempenho da indústria. O desmonte de uma das travas acontece em um momento de entrada mais fraca de dólares.

Para o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, está claro que o governo tem preferido recorrer a instrumentos conjunturais em vez de adotar uma política estável de intervenção no câmbio. Para ele, o governo enfrenta um dilema com relação ao câmbio e seus impactos sobre os investimentos. Isso porque os períodos de investimentos, geralmente, estiveram associados a taxas de câmbio mais valorizadas.

"Mas, na medida em que o governo passa a adotar políticas para fomentar o enfraquecimento da moeda, como vai compensar os setores que são dependentes de insumos importados para fazer seus investimentos?", questiona.

Por isso, diz, o governo tem adotado a tributação de IOF como política cambial, com o objetivo de administrar o volume de dinheiro no mercado interno. "Se percebe que o mercado de câmbio caminha para uma liquidez menor e isso pode afetar a captação das empresas e financiamento da produção interna, o governo mexe nas alíquotas de modo a obter os resultados desejados, em vez de adotar uma política estável."