Título: Petrobrás eleva investimento em 5,2%
Autor: Valle, Sabrina ; Torres, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2012, Economia, p. B14

Aumento em relação ao plano de negócios para 2012-2016 é de US$ 11,8 bi, mas estatal reduziu metas de produção e ações caíram 3,87%

O plano de negócios da Petrobrás para o período 2012-2016 elevou em 5,2% os investimentos em relação ao plano anterior (2011-2015), mas reduziu as metas de produção a longo prazo e limitou o comprometimento de recursos em projetos que ainda não têm o planejamento básico aprovado.

Aprovado anteontem pelo conselho de administração, o plano de negócios prevê o investimento de US$ 236,5 bilhões até 2016, ante US$ 224,7 bilhões do plano 2011-2015, anunciado em 2011. São US$ 11,8 bilhões a mais. Em reais, a alta é ainda maior, de 7,1% (de R$ 389 bilhões para R$ 416,5 bilhões), de acordo com valores especificados nos documentos do ano passado e atual, com as conversões de cada um.

A reação do mercado ao plano foi negativa. As ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobrás caíram 3,87% na Bovespa e a preferenciais, 3,86%. Foram a segunda e terceira maiores baixas do Ibovespa, que terminou o dia com perda de 0,54%. Analistas consideram que, sem reajustar os combustíveis, a empresa pode ter dificuldade de financiar seu plano de investimentos.

O plano 2012-2016 espelha o embate travado desde fevereiro - quando tomou posse a presidente Graça Foster - entre a cúpula da Petrobrás e a equipe econômica do governo Dilma Rousseff. Graça e seus diretores defendiam um plano com metas mais realistas, sem exageros. Ela defende também uma correção da defasagem de preços dos combustíveis com o mercado internacional. Já o governo, sócio controlador, exige que a Petrobrás contribua intensamente com a política de ampliação dos investimentos, para estimular a economia e impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). E diz que não há previsão de alta da gasolina.

Uma semana antes da reunião, o ministro da Fazenda e presidente do conselho de administração, Guido Mantega, já adiantara a ampliação dos investimentos, confirmada anteontem. Em contrapartida, Graça conseguiu que as metas de produção de longo prazo fossem reduzidas. A medida é necessária para que a estatal evite descumprir metas, como tem ocorrido.

A queda prevista na produção para 2020, de acordo com o novo plano, foi de 11%. Passou a 5,7 milhões de barris de óleo e gás diários, ante os 6,4 milhões previstos pelo plano de 2011-2015.

Para 2016, a produção estimada também caiu em comparação com a prevista há um ano para 2015. A meta foi reduzida de 3,7 milhões de barris/dia em 2015 para 3 milhões em 2016. Para os próximos dois anos, foi mantida estável, mesmo com investimentos robustos. "A perspectiva de aumento da produção somente em 2014 leva investidores a questionar por que deveriam comprar ações da empresa agora", disse o analista Marcus Sequeira do Deutsche Bank, em relatório.

Graça também defendia foco na área de produção e exploração. O primeiro plano de negócios de sua gestão reflete a prioridade. Não só foram elevados em 11% os investimentos para o setor, de US$ 141,8 bilhões, como seu peso cresceu 3 pontos porcentuais. O segmento de exploração e produção agora concentra 60% dos investimentos. O Brasil concentrará US$ 131,6 bilhões.

A área que mais sofreu foi a de refino, transporte e comercialização, que perdeu US$ 5,1 bilhões em investimentos desde a última revisão, que já tinha enxugado o orçamento da área. O setor é um dos mais afetados pela estratégia de Graça de limitar os projetos ainda em "fase conceitual" (preliminar).

A partir de agora, com exceção da área de exploração e produção, terão prioridade empreendimentos com projeto básico (posterior ao conceitual) aprovado. Projetos em fase anterior disputarão recursos entre si. Só será aprovada a contratação quando o projeto comprovar viabilidade financeira. Caso contrário, ficará de fora. / COLABORARAM CLÁUDIA VIOLANTE e ANDRÉ MAGNABOSCO