Título: Mercado de câmbio vive clima de indefinição no Brasil
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2012, Economia, p. B13

Empresas e investidores reduzem ritmo dos negócios e fluxo de dólares para o País não se mantém constante

As incertezas externas têm colocado parte do mercado de câmbio em clima de espera no Brasil. Com sinais pouco consistentes e, às vezes, até divergentes sobre Europa, Estados Unidos e China, empresas e investidores optam por reduzir o ritmo nos negócios. Com volumes menores, o fluxo de dólares ao Brasil não segue tendência firme. Ontem, a moeda voltou a subir e fechou a R$ 2,035, com alta de 0,25%.

A falta de clareza sobre os rumos da economia global tem feito o mercado de moedas operar sem um norte. Após a entrada de US$ 843 milhões nos oito primeiros dias do mês, a tendência mudou: os números do Banco Central voltaram ao campo negativo e US$ 327 milhões deixaram o Brasil na semana passada, entre 11 e 15 de junho. A troca de sinais não surpreende analistas.

"Não há rumo no cenário exterior. Cada instituição fala em um sentido e o investidor fica perdido", diz a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares. Segundo ela, a cautela gera menor volume de negócios e cuidado redobrado. A maior preocupação, diz Miriam, é ficar exposto às variações cambiais.

Comércio. Ao contrário do visto nos últimos 15 meses, o setor de comércio exterior amarga fluxo cambial negativo, mostram os dados do BC. Isso quer dizer que as transferências para pagar importações superaram o montante de dólares que ingressou no Brasil pela mão dos exportadores. Na semana passada, US$ 435 milhões deixaram o País para pagar importados.

Mesmo com o dólar a R$ 2 - positivo para quem vende em dólar -, exportadores têm sido cautelosos. "O resultado da balança comercial tem frustrado as expectativas em boa parte pela queda de preços importantes para o Brasil, como o minério de ferro, açúcar e café", diz o economista da Rosenberg & Associados, Rafael Bistafa. "Além disso, muitos trouxeram volume grande de recursos quando o dólar bateu em R$ 2. Agora, a necessidade de mais recursos parece menor e empresas preferem esperar e deixam o dinheiro no exterior."

Surpreendentemente, o fluxo de dólares com os investidores continua positivo. Na semana passada, US$ 108 milhões entraram no País em transações como compra de ações e títulos de renda fixa, empréstimos e investimento produtivo. Em junho, a conta já chega a US$ 1,12 bilhão.

Os números positivos, porém, não animam o mercado, que segue cauteloso à espera de uma solução externa. No mês passado, US$ 6,3 bilhões deixaram o Brasil nessas operações, maior volume desde novembro de 2008 ainda na crise passada.