Título: Pnuma deve virar agência, prevê Steiner
Autor: Dantas, Fernando ; Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2012, Vida, p. A24

Diretor do programa da ONU para meio ambiente pressiona Brasil; para País,órgão de desenvolvimento sustentável seria melhor

Apesar da resistência de países como Brasil, o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, disse ontem que confia na transformação do órgão em uma agência independente - nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC) - até o fim da Rio+20. A alteração é um dos principais pontos de impasse entre os negociadores. Para Steiner, no entanto, a "evolução" do Pnuma é um dos "resultados potenciais" da Rio+20.

A ideia foi lançada por países europeus e ganhou o apoio de nações africanas - a sede fica em Nairóbi, no Quênia. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, já afirmou que a prioridade é fortalecer o Pnuma - com orçamento fixo, por exemplo; e não mais com base em doações -, mas não o transformar em agência, processo que "não é tão simples".

O Brasil defende a criação de uma entidade com foco em desenvolvimento sustentável, não só em meio ambiente.

Ontem, o diretor do Pnuma colocou pressão sobre o País. "É uma negociação. O papel principal do Brasil é dar liderança e facilitar consenso. O governo brasileiro mandou um sinal de que está aberto para ajudar nesse papel", disse. "Há vozes diferentes, de partes diferentes do governo", reconheceu. Mas frisou: "Não é uma posição nacional que vai determinar a posição da comunidade internacional".

Steiner tem afirmado que a transformação na agência conta com o apoio de mais de 140 países. Segundo ele, não há nenhuma nação no mundo que seja contra a "evolução" do Pnuma, "mas há perspectivas diferentes".

Crise. O diretor do Pnuma evitou creditar à crise econômica europeia um eventual fracasso da Rio+20. "Claramente, a situação da Europa é um desafio, no contexto local e também no papel deles na política internacional, mas não se trata de algo absoluto, tampouco para todo o futuro", afirmou. Os negociadores, para Steiner, têm de encontrar uma forma de reconhecer os atuais problemas, sem esquecer que eles poderão já não mais existir em "2015 ou 2020".

"Estamos aqui, o mundo está no Rio", disse Steiner - nascido no Brasil e criado na Alemanha. "Vamos olhar à frente e a pergunta é: quais são os resultados que vão provar ao mundo que esta reunião terá valor para a próxima geração?"

O diretor do Pnuma defendeu a criação do fundo de US$ 30 bilhões ao ano para financiar o desenvolvimento sustentável - que pode ficar só no papel por causa da crise. Para Steiner, seria uma forma de facilitar o acesso dos países de América Latina e África às novas tecnologias.