Título: Pacote não estimula investimento a longo prazo, dizem analistas
Autor: Monteiro, Tânia ; Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2012, Economia, p. B3

Mesmo assim, efeitos da linha de crédito de R$ 20 bilhões só deverão ser sentidos a partir do ano que vem

O pacote de crédito para os Estados não resolve a necessidade de o País elevar os investimentos no longo prazo. Mesmo assim, só deverá estimular a economia e ajudar no crescimento da economia a partir do ano que vem. A avaliação é de economistas, que alertam para a necessidade de o governo criar regras rígidas para impedir que governadores usem os empréstimos para aumentar os gastos da máquina pública.

Segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a linha de crédito de R$ 20 bilhões do BNDES para os Estados ainda demora a sair do papel por causa do processo licitatório e exigências da legislação para obras de infraestrutura.

"Vai ser muito difícil ter aumento do PIB em 2012 maior do que no ano passado. Isso aí vai ajudar o crescimento no próximo ano", avaliou. "Quando o governo dá sinal verde, não é algo que acontece em dois, três meses, porque precisa de processo licitatório, licença ambiental, há sempre contestação judicial."

Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, afirma que "o programa pode ter efeito positivo se for bem feito e se tiver condicionalidades bem definidas", afirmou. "Essa possibilidade de o dinheiro acabar indo para custeio existe se não colocar regras como, por exemplo, só liberar o dinheiro se entrar com projeto claro, e não com uma coisa genérica."

Efeito. Os economistas concordam, no entanto, que a crise econômica deixa os empresários mais cautelosos, dificultando os investimentos privados. Neste cenário, o governo precisaria assumir o papel de estimulador da economia. Os especialistas discordam da forma como a gestão Dilma Rousseff optou por fazê-lo: Salto defende cortes nos gastos com a máquina pública - o chamado custeio - para abrir espaço para a iniciativa privada.

"Criar um limite legal para o crescimento de despesas seria ideal para aumentar os investimentos ao longo do tempo, com chance ter um crescimento econômico mais sólido", afirmou.

Almeida diz que a adoção de medidas de estímulo no período de incerteza internacional pode fazer o tiro sair pela culatra. "Em algum momento, essas medidas vão começar a mostrar impacto no crescimento da demanda. O risco é que isso aconteça quando as pessoas se endividarem para aumentar o consumo", disse.

"Se isso não for muito bem dosado, corremos o risco de ter aumento muito forte de demanda, isso se transformar em inflação e o Banco Central ter que aumentar os juros de novo mais à frente", acrescenta.