Título: Luz no fim do túnel não está acesa, diz Dilma
Autor: Monteiro, Tânia ; Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2012, Economia, p. B3

Presidente disse aos governadores que após as eleições na Grécia situação da Europa tende a se agravar, mas defendeu medidas de estímulo ao consumo

"Com o aproximar da eleição na Grécia, eu diria aos senhores que a luz no final do túnel não está acesa." Foi com essa franqueza que a presidente Dilma Rousseff traçou um panorama da crise econômica internacional na reunião com governadores ou vice-governadores dos 27 Estados do País. Ela avaliou que a situação na Europa tende a agravar-se.

"Estamos todos de olho naquilo que pode ser o pior: o período pós-eleitoral da Grécia", disse Dilma. "Se me permite, presidenta, há, sim, luz no fim do túnel", respondeu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Todos os presentes pararam para ouvi-lo. "Só que é uma locomotiva vindo em sentido contrário." Ele se referia aos impactos da crise sobre as chamadas economias emergentes.

Em contraste, após reunir-se com governadores a presidente recebeu os atletas que participarão da Olimpíada de Londres e garantiu que o País vai merecer medalha pelo crescimento econômico. "Você vai ver se não vai merecer. Nós estamos no esquentamento", disse ela, simulando um exercício com halteres, brincando com os esforços do governo para reaquecer a economia.

Em sua explanação aos governadores, Dilma assegurou que o País está mais preparado para enfrentar a atual crise do que estava em 2009. Na rodada anterior, o Brasil vinha de um período de baixo crescimento. Não é o caso agora. Além de a economia estar em melhores condições, o governo vem agindo para se proteger dos efeitos da turbulência internacional.

Consumo. Como vem fazendo nas últimas semanas, a presidente defendeu as medidas de estímulo ao consumo. Segundo alguns analistas, essa via estaria esgotada, dado o alto nível de endividamento das famílias brasileiras. Dilma rebateu essa avaliação. "Temos uma demanda reprimida de consumo, não podemos cair nesse viés elitista de pensar em restrição do consumo, desde que saibamos equilibrar consumo com investimento."

Dilma também defendeu as medidas de proteção ao mercado nacional, como a taxação extra de 30% aos automóveis importados. Segundo afirmou, não faria sentido permitir que outros países explorassem uma fatia de 30% do consumo do País.

Para ela, as avaliações de que os investimentos em sondas da Petrobrás estariam atrasados por causa da elevada exigência de conteúdo nacional são "complexo de vira-lata". A demora, segundo informou, é causada pelos fornecedores internacionais, e não os brasileiros.

Realismo. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB0), confessou ter encontrado uma presidente e um ministro da Fazenda "muito mais preocupados do que supunha que estivessem". Já o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), acha que a presidente foi realista. "Me impressionou muito a segurança com que ela fala da crise e de como enfrentá-la", elogiou.

Todos os governadores tiveram oportunidade de falar, por isso a presidente não escapou de ouvir críticas. Alguns pediram dois anos de carência para a linha de crédito criada, e não um, como foi anunciado. Esses ouviram uma resposta dura. "Nós não liberamos geral", afirmou Dilma. "Estamos priorizando o investimento seguro com regras." Ela observou que o prazo de pagamento de 20 anos é o dobro do que era oferecido antes.

Outros reclamaram do alto custo da dívida que têm com o Tesouro Nacional. Houve ainda muitos pedidos de apoio para aprovação rápida da regra de divisão dos impostos arrecadados sobre vendas pela internet.

Ficou claro, também, que haverá disputa pela divisão dos R$ 20 bilhões que o BNDES se dispõe a emprestar aos Estados. A ideia do governo era usar como referência os repasses do Fundo de Participação dos Estados (FPE), o que beneficiaria as unidades mais pobres da Federação. Houve, porém, ponderações pelos Estados mais desenvolvidos. A decisão ficou para depois. O critério será estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), no fim deste mês. / COLABORARAM CHRISTIANE SAMARCO e RAFAEL MORAES MOURA