Título: Grécia chega às eleições sem favorito
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2012, Economia, p. B12
Às vésperas do pleito, Carrefour abandona o país
Samaras e Tsipras estariam empatados, e nome do premiê deve depender de coalizão; UE se prepara para eventual vitória da esquerda
A tensão política e econômica aumentou ontem na Europa, às vésperas das eleições parlamentares na Grécia, que serão realizadas neste domingo.
Com as pesquisas eleitorais proibidas há duas semanas, ninguém em Atenas sabe com certeza quem é o favorito para assumir o posto de primeiro-ministro: Antonis Samaras, do Nova Democracia (ND, direita), a favor dos programas de austeridade, ou Alexis Tsipras, da Esquerda Radical (Syriza), que pede a renegociação do pacto de socorro firmado com a União Europeia. Diante da incerteza, Bruxelas já estuda flexibilizar o rigor imposto a Atenas para manter o país na zona do euro.
A campanha na Grécia terminou ontem, com a realização de grandes comícios em Atenas e no interior. Na capital, Samaras reuniu milhares de pessoas na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento. "O que está em jogo nessas eleições é claro: o euro ou o dracma, o governo de coalizão ou um desgoverno", disse ele, em seu discurso, no qual tentou dar um tom de plebiscito à eleição. Samaras prometeu ainda que "a Grécia sairá da crise, e não do euro", acusando seu adversário de brincar com fogo ao propor a renegociação do socorro que garantiu € 130 bilhões em ajuda e € 107 bilhões em cortes na dívida com credores privados, em troca de austeridade.
Em seu comício, na Praça Aristóteles, em Salonica, segunda maior cidade do país, Tsipras ironizou o apoio oficial da versão alemã do Financial Times a seu opositor, ao qual chamou de "caluniador desprezível". "No domingo, vamos virar a página. A Grécia vai mudar. Vamos deixar para trás o medo e a insegurança e aqueles que tentam envenenar o povo grego", afirmou, atacando também Angela Merkel, chanceler da Alemanha.. "Merkel tem medo porque ela não vai se ver diante de um governante que diz sim o tempo inteiro."
Pesquisas. Mesmo proibidas, informações sobre pesquisas eleitorais encomendadas pelos partidos políticos e por órgãos de classe, como sindicatos de trabalhadores e patronais, continuam vazando. Em 6 de maio, na eleição anterior, o Syriza obteve 16,8% dos votos, em segundo lugar, e agora está perto de dobrar sua votação. Mesmo assim, as sondagens indicam que Samaras teria uma ligeira vantagem sobre Tsipras, ambos próximos de 30%. Esses dados explicam o otimismo dos investidores na bolsa de valores de Atenas, onde o índice ASE subiu ontem 1,85%, depois de ter ganho espantosos 10,1% no dia anterior.
Assim como toma todas as atenções no plano interno, as eleições da Grécia mobilizam também toda a Europa. E, antes mesmo do resultado final, uma polêmica já se consolida sobre o tratamento a ser dado aos gregos em caso de vitória de Tsipras. Ontem, o vice-chanceler da Áustria, Michael Spindelegger, defendeu o desligamento do país da zona do euro. "A Europa está pronta, nas condições acordadas, a financiar a ajuda à Grécia. Essas condições não serão renegociadas com o novo governo", disse o executivo em entrevista ao jornal WirtschaftsBlatt.
Essa posição, entretanto, está se tornando aos poucos minoritária na Europa. Cada vez mais líderes políticos têm admitido nos bastidores a hipótese de flexibilizar o acordo de resgate da Grécia para evitar a saída do país da zona do euro, o que teria um custo muito mais elevado - ainda que impossível de prever. Em Bruxelas, a informação é de que chefes de Estado e de governo estariam dispostos a conceder prazos mais amplos para a recuperação das contas públicas, o que reduziria a intensidade dos cortes. Líderes como François Hollande, na França, e Mario Monti, na Itália, falam em criar condições para que a Grécia permaneça na zona do euro.
Ação conjunta. Diante da perspectiva de um caos financeiro após a eleição grega, líderes europeus mantiveram ontem uma teleconferência de emergência para coordenar uma eventual ação conjunta já na segunda-feira para tentar evitar que o resultado em Atenas represente uma espécie de "Lehman Brothers europeu". Mas, se a reunião mostrou uma coesão dos países sobre a situação grega, revelou mais divisões que pontos em comum na estratégia para superar a crise europeia. Num comunicado emitido ao final do encontro, os líderes se limitaram a declarar que estão comprometidos "a manter as ações para garantir a estabilidade econômica global e apoiar o crescimento".
Amanhã, uma nova teleconferência deve ser realizada entre os 17 ministros de Finanças da zona do euro logo após o resultado do pleito para enviar uma mensagem aos mercados, antes da abertura dos pregões na Ásia. / COLABOROU JAMIL CHADE
O Carrefour está saindo da Grécia, onde as companhias estão vendo a demanda despencar por causa da crise da dívida, além de terem dúvidas sobre a permanência do país no euro.
O maior varejista da Europa anunciou ontem a venda da fatia em uma joint venture grega para o parceiro local Marinopoulos.
Companhias lutam contra a queda na demanda nos países mais endividados da Europa, que também incluem Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, antes das eleições que decidirão neste fim de semana se a Grécia fica ou não na zona do euro.
O grupo francês, cujas vendas na Grécia caíram 16% no primeiro trimestre, terá uma baixa contábil de 220 milhões (US$ 277 milhões) sem efeitos de caixa como resultado da venda. A empresa não deu mais detalhes financeiros. / REUTERS