Título: Economia fraca faz mercado prever inflação na meta
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2012, Economia, p. B11

Instituições financeiras alteram projeções e colocam IPCA perto de 4,5% em 2012, cenário impensável alguns meses atrás

Os analistas do mercado financeiro já projetam inflação bem próxima do centro da meta de 4,5% em 2012, um cenário impensável alguns meses atrás. O Bradesco, por exemplo, prevê IPCA de 4,9%. O Credit Suisse, de 4,8%. E o Deutsche Bank, de 4,7%. Na terça-feira, uma medida acompanhada de perto pelos investidores brasileiros mostrou, pela primeira vez no ano, uma expectativa de IPCA inferior a 4,5%.

Trata-se de um cálculo que toma por base as negociações com NTN-B, um título público indexado justamente à inflação oficial do País. "O lado bom disso é evidente: a inflação mais baixa traz alívio para o Banco Central", afirmou o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani. Ele acaba de rever sua estimativa para 5%, de 5,5% antes. "O lado ruim é que a inflação menor se explica pela "senhora" desaceleração por que passa a economia brasileira."

Criticado por grande parte dos analistas de mercado pela forma como tem conduzido a política monetária, o BC parece mesmo aliviado. O Estado apurou que, em uma reunião com economistas na semana passada, um diretor do BC fez questão de comentar o resultado de uma pesquisa realizada regularmente pela instituição com o mercado financeiro.

Segundo o diretor, quatro economistas, entre os cerca de 120 consultados semanalmente pela autoridade monetária para compor o relatório Focus, já previam inflação no centro da meta em 2012. A lista deve aumentar nas próximas semanas. Por enquanto, o Focus mostra que a média do mercado projeta IPCA de 5,03%, em comparação a 5,22% um mês atrás e 5,31% em janeiro.

Desaceleração. Como notou Padovani, a inflação mais baixa é uma boa notícia para o Banco Central, que vê fortalecida sua avaliação sobre a economia nacional - desde o ano passado, o BC sustenta que o IPCA convergiria para o centro da meta ao final de 2012. A notícia também é positiva, claro, para o bolso do brasileiro. O problema é o conjunto de razões que provocou a desaceleração dos preços.

"O crescimento mais fraco no Brasil e no mundo reduz o risco de aceleração da inflação nos próximos trimestres", afirmaram os analistas do Itaú em relatório divulgado na quinta-feira. No texto, o banco informou que reduziu a estimativa para o IPCA deste ano de 5,2% para 5%.

Em outro relatório, os economistas do Bradesco observaram que "há sinais" de uma retomada mais fraca da economia neste segundo trimestre, após o crescimento já decepcionante de 0,2% nos três primeiros meses do ano. Sexta-feira, o BC divulgou um indicador que é visto como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). O chamado IBC-Br avançou apenas 0,22% em abril.

Também em relatório, os analistas do banco Credit Suisse observaram que "aumentou muito" a chance de que a economia brasileira cresça somente 1,5% neste ano. "Os recentes indicadores domésticos e externos elevaram bastante a probabilidade de que o crescimento do PIB fique abaixo da nossa projeção, de 2%, e fique mais próximo do intervalo de 1% a 1,5%."

O desempenho da economia é uma das razões que levaram os analistas do Credit Suisse a afirmar que o recuo do IPCA tem sido disseminado entre todos os seus componentes. "(Há) expressiva diminuição da inflação, não apenas no conjunto dos preços mais voláteis, como alimentos, bens industriais e combustíveis, mas também nos menos voláteis, como serviços e preços monitorados."

Nos 12 meses encerrados em maio, o IPCA alcançou 4,99%. Foi a primeira vez desde setembro de 2010 em que se situou abaixo dos 5%.

Para Padovani, a debilidade da economia é fruto de quatro fatores: crise internacional, que reduz a expansão no mundo todo; custo da produção elevado no Brasil, que inibe os investimentos do setor privado; quebra de safra em alguns culturas agrícolas; e perda de ritmo nas concessões de crédito pelos bancos.

Para tentar estimular a atividade, o governo tem tomado várias medidas. Entre elas, a redução do IPI para a compra de veículos. Não à toa, o preço do carro zero quilômetro caiu 2,6% entre maio e junho, segundo o AutoInforme/Molicar. É o maior recuo desde o auge da crise global, em 2008.

"O que me incomoda é o fato de que a inflação deveria ter caído ainda mais dada a intensidade da desaceleração da economia brasileira", pondera Padovani. "Isso mostra como nossa inflação é estruturalmente alta."