Título: Sob críticas, deputado tucano defende Dilma
Autor: Girardi, Giovana ; Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Vida, p. A20/21

Eduardo Azeredo teve de responder a questões sobre as políticas econômicas e ambientais do governo federal

A contradição entre a política econômica do Brasil e o discurso ambiental do governo federal às vésperas da Rio+20 provocou polêmica no primeiro dia do Desafio Rio/Clima, evento paralelo à conferência mundial.

As críticas de palestrantes e da plateia foram tão duras que até o deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) deixou de lado a posição de oposição para defender o governo. "Não creio que o governo Dilma seja despreparado para lidar com as questões ambientais", disse ele, que é presidente da comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

Diante de um público formado principalmente por professores e pesquisadores universitários, as medidas de incentivo ao consumo e os investimentos no pré-sal foram questionadas. "Nos últimos dois anos, houve estagnação na política industrial, pois ela foi voltada a promover o desenvolvimento, independentemente da eficiência energética. O eixo tem sido as indústrias do petróleo e automobilística", observou o professor Eduardo Viola, da Universidade de Brasília (UnB).

Azeredo tentou defender a atuação dos deputados. "Fizemos um relatório e temos diversos projetos apresentados, mas essas coisas não se resolvem de uma hora para a outra."

Crise internacional. Na abertura do Desafio Rio/Clima, o cenário internacional desfavorável foi apontado como principal ameaça à discussão, na conferência brasileira, sobre políticas ambientais para os próximos anos. Com dados alarmantes sobre emissões de carbono, ambientalistas mostraram especial preocupação com a crise na União Europeia, considerada a líder potencial nas negociações.

"Uma recessão pode ter efeito muito pernicioso se interromper esse processo de mudança gradual", declarou o coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe/UFRJ, Emilio La Rovere.

Ele criticou políticas de países como Alemanha e Espanha, que, segundo La Rovere, teriam cortado incentivos à energia eólica e solar. "Os subsídios tendem a ser decrescentes ao longo do tempo, mas não pode haver uma descontinuidade, pois isso seria fatal."

No evento, na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o tom foi de desconfiança em relação à posição dos europeus na Rio+20. "A União Europeia esteve, por 15 anos, na vanguarda dos acordos ambientais, mas foi capturada pela crise. Quanto mais se aprofunda a crise europeia, pior para a humanidade", afirmou Viola, da Universidade de Brasília.

Segundo ele, o papel do Brasil vai pouco além do de anfitrião. "Tem de estar mais próximo da posição de países como Europa e Japão, e não do nacionalismo de China e Índia, como tem feito", acrescentou.