Título: Medidas para proteger oceanos dividem participantes
Autor: Girardi, Giovana ; Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Vida, p. A20/21

Prazo para recuperação de pesqueiros ameaçados no mundo é um dos principais pontos de discórdia

A eliminação de subsídios que favorecem a pesca destrutiva e a recuperação de estoques pesqueiros ameaçados de extinção foram os principais pontos de conflito nas negociações sobre desenvolvimento sustentável dos oceanos, ontem, na Rio+20.

Uma das propostas em debate é a que estipula prazo até 2015 para recuperação dos estoques pesqueiros ameaçados.

A meta foi defendida pelo Brasil e teve apoio da África do Sul, mas outros países disseram que ela é irrealista. "Para muitos estoques é biologicamente impossível fazer essa recuperação", afirmou o representante do Canadá.

Japão e Noruega, que têm forte indústria pesqueira, também se posicionaram contra a meta. "Eu hesitaria em pedir a nossos ministros que se comprometam com algo que sabemos ser biologicamente impossível", disse a representante da Noruega.

Também se discutiu muito a proposta que sugere a eliminação de subsídios que contribuem para atividades pesqueiras ilegais ou nocivas ao meio ambiente - a ser aplicada até 2015.

Nenhum texto definitivo foi elaborado. As negociações seguem até o dia 22.

Risco elevado. Estudos indicam que a maioria dos estoques pesqueiros do mundo é explorada acima do limite sustentável. Vários deles são considerados à beira do colapso. Além disso, os impactos do aquecimento global, como elevação da temperatura e acidificação da água, provocam graves consequências para a biodiversidade marinha e a regulação do clima global. "Os oceanos são o radiador do planeta; são eles que controlam o clima global. Se você mexe com esse radiador, você mexe com o planeta todo", disse Luis Valdés, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco.

Valdés criticou a posição das negociações climáticas, até mesmo do ponto de vista científico, dizendo que elas não levam em conta os limites biológicos e geofísicos dos oceanos, mas apenas dos ecossistemas terrestres - por exemplo, a determinação de que 2°C é um limite aceitável de aquecimento global. "Dois graus a mais podem ser muito prejudiciais para os oceanos. Muitas espécies marinhas não vão suportar isso." / HERTON ESCOBAR