Título: Debates não definem nem o que se discutirá
Autor: Girardi, Giovana ; Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Vida, p. A20/21

Negociadores fracassam em decidir quais e quantos temas serão levados à mesa ou como avanços serão medidos

Um dos pontos mais esperados para que se chegue a um acordo na Rio+20, os chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) entraram na última fase de negociações preparatórias da cúpula sem decisão sobre quais e quantos temas serão incluídos, além de uma série de incertezas sobre seu processo de implementação.

Pela manhã, no início na última reunião preparatória do documento O Futuro que Queremos, os negociadores discutiam, por exemplo, os termos do item sobre como o progresso dos objetivos poderia ser medido - não se estabeleceu como isso pode funcionar.

Por outro lado, o parágrafo que sugeria a existência de relatório global de desenvolvimento sustentável fez o facilitador das discussões questionar: realmente precisamos desse parágrafo? Ao que o representante do G-77 (grupo de países em desenvolvimento, que inclui o Brasil) mais China respondeu: não.

Outro item de intenso debate foi o parágrafo que propõe o reconhecimento dos limites do PIB como indicador de bem-estar. Apesar de todo o mundo concordar que há limites, questionou-se se esse item fazia sentido dentro dos ODSs ou se deveria ser discutido em outro fórum dentro da conferência. Novamente, sem consenso.

Em outra reunião, sobre governança, alguns dos itens em debate fizeram referência a quais entidades multilaterais devem se envolver com a promoção do desenvolvimento sustentável; ao aumento do poder dos países emergentes na agenda internacional; e a aumentar ou não as contribuições financeiras para o sistema de desenvolvimento da ONU.

Nas negociações sobre o capítulo de Água, o debate principal foi entre a União Europeia e o G-77. Principalmente, um parágrafo que estabelece compromissos qualitativos (sem metas numéricas) para a redução da poluição e do desperdício e o aumento da infraestrutura de saneamento. O representante do G-77 insistiu em eliminar o parágrafo e incorporar algumas de suas ideias em outras partes do documento, enquanto a UE queria até reforçar o texto. Não houve consenso. / G.G, H.E. e FERNANDO DANTAS