Título: Palavra de ordem é ampliar investimentos domésticos
Autor: Torres, Sérgio ; Junqueira, Alfredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Economia, p. B4

O governo adotou o vale-tudo para estimular os investimentos privados na tentativa de acelerar o nível da atividade econômica. Duas novas frentes foram abertas nesta semana: a liberação de recursos do Banco do Brasil e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para financiar os investimentos dos Estados, enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinaliza com a possibilidade objetiva de revogar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos externos de até cinco anos. A mudança no IOF tornaria o crédito mais barato para empresas e bancos e, ao mesmo tempo, ajudaria o Banco Central na tarefa de conter a volatilidade no câmbio.

Essas iniciativas devem ser analisadas e inseridas no quadro preocupante de recuperação da atividade econômica. A palavra de ordem é ampliar os investimentos domésticos, lançando mão das medidas necessárias para elevar a oferta de crédito. O sentimento de urgência já existia, mas o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que mostrou uma economia estagnada, colocou o governo com os pés na realidade e o fez reconhecer que a produção de bens no País, este ano, na melhor das hipóteses, ficará nos 2,7% observados no ano passado.

Apesar de a indústria ter exibido sinais ainda que tímidos de recuperação, a queda de 7,3% na produção agropecuária e a queda dos investimentos de 1,8%, no conceito de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), minaram a confiança de que já no primeiro semestre se poderia observar uma economia mais aquecida. Essa perspectiva foi jogada para o fim do segundo semestre. Por isso, a pressa em viabilizar o crédito também aos Estados e municípios, com governadores e prefeitos participando desse esforço para recuperar a atividade econômica. Como o BNDES não pode suprir toda a necessidade de crédito, o BB passa a fazer parte da ação. A possibilidade de remoção do IOF nos empréstimos externos de até cinco anos entraria como reforço adicional, principalmente aos bancos.

A estratégia está montada. A questão agora é definir o momento de cada medida. O crédito já está jorrando para empresas, Estados e municípios. A remoção ou uma nova dosagem da alíquota do IOF está em compasso de espera. O ministro Guido Mantega mandou o recado de que o imposto pode ser removido por meio de entrevista ao jornal O Globo, mas não está claro como isso acontecerá. Ele poderá trabalhar com a alíquota e/ou com o prazo, reduzindo o imposto de 6% ou modificando o prazo atual de cinco anos.

O outro aspecto da remoção do IOF é servir de braço auxiliar ao Banco Central no controle da volatilidade, num momento em que o fluxo de capitais não representa o tsunami imaginado no passado recente. Aliás, o IOF foi introduzido no ano passado após a preocupação de que o País seria inundado por dólares de investidores em busca de ganhos com a elevada taxa de juros brasileira. Os juros estão caindo, embora a vantagem ainda exista. Mas o desafio agora é outro: crédito farto e maior investimento. Mantega está satisfeito com o nível atual do câmbio e, por isso, este pode ser o momento de desconstruir a inibição do ingresso de capitais por meio do IOF.

São teses que ainda precisam ser testadas e tudo depende dos desdobramentos da forte crise da zona do euro, que na avaliação do Banco Central deve manter a economia mundial patinando pelos próximos dois anos. A presidente Dilma não quer ficar parada e, ao contrário, busca uma mobilização nacional para enfrentar o estágio atual de contaminação da crise, que reforça o pessimismo e afeta as expectativas dos empresários.Na sexta-feira, ele se reúne com governadores para que se comprometam com os investimentos em seus Estados, estimulando a economia local.