Título: Mais investimento de qualidade
Autor: Torres, Sérgio ; Junqueira, Alfredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Economia, p. B4

Diante do agravamento da crise externa, da desaceleração da expansão do crédito interno, e de um crescente viés anti-investimento-privado, a economia brasileira está claramente rateando. Assim, as projeções de crescimento do PIB, para este e o próximo ano, vêm caindo seguidamente.

O pior é a constatação de que é a demanda de investimento que tem comandado a recente desaceleração. Não por acaso, o crescimento sustentável do PIB, que depende em grande medida de quanto do produto local se destina a investimento, se situa hoje na faixa de 3 a 3,5% ao ano, abaixo do que se imaginava possível há bem pouco tempo. Ou seja, a demanda desacelera, mas os problemas do lado da oferta são ainda maiores.

Outras constatações relevantes têm a ver com os investimentos em infraestrutura de transportes. Aqui, os gastos federais não conseguem decolar, e isso se deve mais à inoperância governamental do que à falta de recursos. Há reforma organizacional em curso na burocracia específica, mas os frutos ainda vão demorar.

Do lado das concessões, uma clara postura anti-investidor-sério tem predominado nas últimas levas, e isso pode significar investimentos que não ficam em pé ou que façam pouca diferença em relação ao dramático quadro dos transportes brasileiros.

Nesse quadro, a decisão de reativar a economia via investimento estadual e municipal pode fazer sentido, ainda que a dívida pública cresça um pouco mais. Primeiro, porque o Brasil acumulou créditos de realizações na área fiscal. Depois, porque a adoção de políticas anticíclicas, que implicam gastar mais e reduzir os superávits em fases de baixa enquanto se poupa nas fases de alta, é correta e tem cada vez maior número de adeptos. Terceiro, porque essa política pode ser revertida facilmente à frente em contraste com o aumento de gasto corrente, sempre mais rígido. Por incrível que pareça, há ainda uma quarta razão: várias administrações subnacionais estão mais bem aparelhadas para investir do que a União.

Enquanto isso, cabe mudar a postura em relação aos investimentos privados, especialmente em infraestrutura de transportes, pois com ou sem crise esses precisam crescer, para tirar o País do buraco.

A chave agora é aumentar a produtividade do País via expansão da área de transportes, e isso só se consegue com investimentos de qualidade.