Título: Moody's rebaixa nota da Espanha
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2012, Economia, p. B12

Agência de risco corta rating espanhol em três níveis, de A3 para Baa3, e país fica abaixo do Brasil; crescem os temores de contágio atingir a Itália

A agência de classificação de risco de crédito Moody"s cortou em três graus ontem o rating da Espanha, deixando-o muito próximo do grau especulativo. A Moody"s rebaixou a nota de crédito da Espanha de A3 para Baa3, apenas um grau acima do nível considerado "junk". Ao mesmo tempo, a agência informa que a dívida espanhola continua em revisão para possível rebaixamento.

A Moody"s cita como justificativas o plano do país de recorrer a até € 100 bilhões da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), o limitado acesso de Madri aos mercados da dívida e a persistente fragilidade da economia.

O novo patamar anunciado ontem põe o risco espanhol abaixo da nota do Brasil (Baa2) na escala dessa agência de classificação de risco. O rebaixamento da Espanha reforça os temores de um contágio da crise espanhola desembarcar com força na Itália e coloca Roma no centro da crise europeia.

Ontem, o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, viu seu duro trabalho de reconquistar a confiança dos mercados nos últimos sete meses desmoronar. Ele reuniu em caráter de emergência os líderes dos principais partidos para implorar que as reformas sejam aceleradas, iniciativa que foi lida por investidores como um sinal de que o próprio governo sabe do risco de também ser obrigado a pedir um resgate.

A comprovação do contágio foi demonstrada quando o país foi obrigado a pagar 3,9% em juros na emissão de papéis da dívida com validade de 12 meses, bem acima da taxa de 2,3% cobrada há apenas um mês.

A esperança da UE era de que o anúncio de um resgate de 100 bilhões para a Espanha ajudasse a acalmar a tensão nos mercados e freasse o contágio. Mas ontem isso ficou claro que não ocorreu no leilão de 6,5 bilhões pelo Tesouro italiano.

Se na Espanha o problema é o setor bancário, na Itália o que preocupa é a recessão. O PIB da terceira maior economia do euro deve sofrer uma contração de 1,7% em 2012, o que dificultará ainda mais a tarefa de reduzir a dívida dos atuais 120% do PIB.

Analistas já apontam que, se o custo para o Estado italiano se financiar continuar nesses níveis, Roma não terá outra opção senão a de pedir um resgate. "A agenda de reformas de Monti está estagnada, o desemprego chega a 10,2% e é o maior em uma década e a confiança do consumidor é a mais baixa em 15 anos", afirmou a consultoria Brown Brothers Harriman. "A Itália está fadada a ser a próxima a ser resgatada na zona do euro", alertou. "O contágio na Itália já é uma realidade", apontou Joachim Fels, economista-chefe do Morgan Stanley em Londres. "O mercado já não diferencia entre Espanha e Itália, o que é um sinal de que o pânico já se instalou", declarou o economista Nicholas Spiro.

Paraísos fiscais. Dados da Eurostat deram uma indicação do tamanho do pânico: 2011 terminou com europeus multiplicando por 11 seus "investimentos" em paraísos fiscais, numa clara demonstração de que não confiam nem nos bancos europeus nem no euro. No total, 59 bilhões foram enviados aos paraísos fiscais.

Monti apelou ontem para que o mercado não se influencie por "clichês e preconceitos". Mas foi obrigado a atacar a sugestão da ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter, que apontou um dia antes que Roma poderia ter de pedir um resgate.

Apesar de negar um resgate, a dimensão da crise obrigou Monti a reconhecer que chegou o momento de mudar a forma de lidar com o paciente. Para ele, a Europa precisa passar a promover o crescimento. Isso incluiria maiores investimentos públicos e a emissão de eurobônus, uma espécie de consórcio de dívidas da zona do euro. Para ele, se a cúpula da UE chegar a esse resultado na semana que vem, o risco italiano vai cair.

Temendo uma contaminação, o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, fez questão de elogiar Roma e indicou que Monti está tomando as medidas para evitar seguir o caminho da Espanha. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS