Título: Gripe aviária pode virar pandemia humana
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2012, Vida, p. A22

Estudo mostra que faltam só três mutações para que vírus se torne transmissível entre humanos por via aérea

O mundo ainda não conheceu uma forma do vírus letal da gripe aviária que possa ser transmitida facilmente entre seres humanos, mas o risco de que o microrganismo sofra mutações e cause uma pandemia é real. É o que mostra um estudo divulgado na última edição da revista Science.

Os cientistas analisaram dados obtidos nos últimos 15 anos sobre o vírus que costuma circular entre aves. Concluíram que algumas cepas já estão a meio caminho de adquirir as mutações necessárias para causar uma pandemia humana devastadora.

"As mutações que faltam poderiam ocorrer em um único hospedeiro humano", afirma Derek Smith, da Universidade de Cambridge, responsável pelo estudo.

Atualmente, a gripe aviária - causada pelo vírus H5N1 - pode ser transmitida entre aves e de aves para seres humanos, em quem costuma ser letal.

Um estudo realizado por pesquisadores da Holanda mostrou que bastam cinco mutações para que o vírus seja transmissível entre mamíferos por via aérea, ou seja, por um simples espirro. A pesquisa foi muito controversa pois os cientistas manipularam os vírus em laboratório para produzir as cepas com as mutações.

O trabalho gerou enorme polêmica pois o governo americano teve receio de que os resultados obtidos fossem utilizados por terroristas para a criação de uma arma biológica. Depois de muita discussão, o estudo foi publicado, também na última edição da Science.

Um trabalho análogo também foi realizado por pesquisadores americanos e publicado na revista Nature.

Faltam três. "Vírus que contem duas mutações (das cinco necessárias para que sejam transmissíveis entre humanos) são comuns entre as aves, o que implica que há vírus que só precisariam adquirir três mutações", explica Smith Russell, coautor do trabalho.

O vírus da gripe aviária H5N1 foi detectado pela primeira vez em Hong Kong em 1997. Ao todo, 606 pessoas já foram infectadas e 357 morreram. Russell comparou a pesquisa ao trabalho de cientistas que tentam prever um terremoto. "Vivemos sobre uma falha geológica ativa", disse. "E não há nenhum obstáculo para que aconteça (a pandemia)." / REUTERS