Título: Brasil fecha acordo financeiro com a China
Autor: Dantas, Fernando ; Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2012, Economia, p. B4
Pacto prevê a criação de linha de crédito recíproca em moeda local de R$ 60 bilhões
O Brasil vai fechar nas próximas semanas com a China um acordo de "swap" de R$ 60 bilhões (equivalente a aproximadamente US$ 30 bilhões, ou 190 bilhões de yuans). O swap é uma linha de crédito recíproca em moeda local, fornecida e operada pelos respectivos bancos centrais.
Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o instrumento "reforça a situação financeira de ambos os países, com reservas adicionais de recursos num momento em que a economia internacional está estressada". Parte dos recursos poderão ser traduzidos em dólar.
O novo swap foi um dos muitos anúncios feitos ontem por Mantega no Riocentro, onde acontece a Rio+20, sobre diversos acordos e protocolos com a China. O ministro se reuniu com autoridades chinesas no Rio para fechar os acordos. Segundo Mantega, trata-se de um plano decenal de cooperação entre os dois países, com iniciativas econômicas, de investimento, tecnológicas, culturais e agrícolas.
Durante o encontro, foi firmado um acordo entre o Brasil e a China para permitir que a Embraer construa no país asiático seu novo modelo de jato executivo, o Legacy 650, em parceria com a companhia local Avic. O acordo acaba com longa indefinição sobre a atuação da Embraer na China e resolve o imbróglio que poderia resultar no fechamento de sua fábrica no país (leia mais à página B13).
Outra parceria prevê o lançamento conjunto de dois satélites sino-brasileiros, um em novembro de 2012 e outro em novembro de 2014. Os satélites meteorológicos possibilitarão o desenvolvimento de tecnologias aeroespaciais a serem compartilhadas pelos dois países.
O ministro enfatizou o convite para que os chineses invistam na cadeia de petróleo e gás no Brasil. E afirmou que enxerga sinergias entre a Petrobrás e a estatal chinesa Petrochina.
Como já anunciado em Los Cabos, no México, durante a reunião do G20, os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) decidiram estabelecer o mecanismo de swap entre si. A ideia é ter o projeto pronto até a reunião da primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), no primeiro semestre de 2013.
O acerto também estabeleceu a possibilidade de acordos bilaterais, que China e Brasil irão implantar imediatamente.
Na visão de Mantega, com o mundo em marcha lenta, por causa da crise nos países ricos, os emergentes - e os Brics em particular - são a principal fonte de dinamismo econômico global. Desta forma, estes países têm de se apoiar entre si.
"A tendência é que os países avançados demorem algum tempo para se recuperar, tenham problemas durante mais algum tempo. Enquanto isso, os países mais dinâmicos estarão crescendo e gerando sinergia entre si. Estamos crescendo e oferecendo oportunidades recíprocas", disse Mantega. Ele observou ainda que os Brics têm um total conjunto de reservas de US$ 4,5 trilhões (mas não disse que a China sozinha tem US$ 3,2 trilhões).
Mantega lembrou ainda como, logo depois do estouro da grande crise global em setembro de 2008, o financiamento internacional ao comércio exterior travou: "Ninguém exportava nem importava". Na época, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) estende uma linha de swap em dólares de US$ 30 bilhões para o Brasil (o mesmo foi feito para outros países), que não chegou a ser utilizada.
Para o ministro, o reforço mútuo entre os Brics, que será estabelecido imediatamente entre Brasil e China, pode oferecer garantia semelhante.