Título: Em 21 anos, Naouri ergueu império varejista
Autor: Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2012, Negócios, p. B12

Se tivesse optado por uma carreira política, Jean-Charles Naouri poderia sonhar alto na França. Seu percurso acadêmico de exceção e seu início de carreira foram típicos de quem se projeta a um dos mais altos postos de comando do país. Passou pela respeitadíssima École Normale Supérieure, uma das mais importantes da França e da Europa, obteve o grau de doutor em Matemática, passou por Harvard e acabou sua trajetória nos bancos da École Nationale d'Administration (ENA), de onde saíram em 50 anos três presidentes da República - incluindo o atual, François Hollande - e sete primeiros-ministros.

Sua opção, porém, foi pela iniciativa privada. E, então, Naouri se mostrou ser uma espécie de self-made man à francesa. Nos anos 80, após passar pelo sistema financeiro, criou seu próprio fundo de investimentos, o Euris, o que marcaria seu salto no mundo empresarial. Em 1991, adquiriu com os recursos de sua empresa uma pequena rede de supermercados do interior da França, a Rallye, companhia à beira da falência e encurralada na região da Bretanha.

Apenas um ano depois, ele lançaria uma proposta que se revelaria perene: uma fusão com outra rede de supermercados francesa, desta vez com tradição centenária e atuação nacional, o Groupe Casino. A ascensão meteórica, e também polêmica, faria dele acionista majoritário da nova companhia em apenas seis anos, assumindo o controle em 1998 de uma empresa disposta a concorrer com um verdadeiro emblema da França no mundo: o Carrefour. Seguiram-se aquisições em série de rivais: Monoprix, Franprix, Leader Price, Prix Gagnant e CDiscount, com o qual estreou em uma nova área, o comércio eletrônico.

Em 1999, daria seu primeiro passo no Brasil, com um aporte de US$ 1 bilhão no Grupo Pão de Açúcar (GPA), de Abilio Diniz. Era o início de uma história de treze anos: como fizera com o Casino em outro momento, Naouri assume o poder na maior rede supermercadista do País. Resta saber se, como na França, esse é só o início de sua história de empreendedorismo no Brasil.