Título: Hospital das Clínicas e 6 laboratórios usam equipamentos sem registro
Autor: Saldaña, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2012, Vida, p. A20

O Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo e pelo menos seis laboratórios particulares têm usado, ou usaram, um equipamento de diagnóstico de diabete sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Como o registro no órgão é essencial para sua importação, não há informações sobre como eles entraram no Brasil.

Apenas uma empresa no País, a Bio-Oxford, tem o registro na Anvisa do aparelho Variant 2 Turbo Sistema para Teste de Hemoglobina. Somente ela pode importar e fornecer o equipamento, arcando com a responsabilidade de seu funcionamento. De 2006 até fevereiro, a empresa mantinha esses equipamentos no HC no sistema de comodato - mesmo modelo usado nos outros laboratórios.

No fim do ano passado, no entanto, o fabricante, chamado Bio-Rad, dos EUA, rompeu o contrato com a empresa brasileira. Quando os representantes da Bio-Oxford foram retirá-los dos locais, em março, outros aparelhos - do mesmo modelo, mas sem registro - já haviam sido entregues pela própria fabricante.

"Qualquer produto de saúde, seja equipamento, insumo ou medicamento, precisa de registro na Anvisa, que é o que possibilita a importação", diz um dos sócios da Bio-Oxford, Ricardo Fernandes. "Como sou o único com o registro, sou o responsável legal pelo equipamento no País. Se der um resultado errado, a Anvisa vai me procurar. E, de março até este mês, o HC ficou com equipamento sem registro", completa. Não há indícios sobre problemas nos diagnósticos dos pacientes.

Fernandes fez denúncia à polícia e à Anvisa em março. Questionada, a agência confirmou que o Variant 2 Turbo possui registro somente pela empresa Bio-Oxford, mas não deu informações sobre fiscalização. "Não participamos de nenhuma ação de fiscalização envolvendo o caso desse produto específico", citou o órgão em nota.

O Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), da Polícia Civil de São Paulo, determinou a apreensão dos oito equipamentos que estão em estabelecimentos do Estado de São Paulo - dois deles no HC. De acordo com o DPPC, houve o auto de apreensão, mas os estabelecimentos ficaram como fiel depositários. O HC, por exemplo, continuou usando-o (mais informações nesta página).

Ao todo, são 30 os equipamentos que "apareceram" sem que tivessem sido fornecidos pela única empresa no Brasil com o registro, a Bio-Oxford. Além de São Paulo, laboratórios de Pernambuco, de Minas e do Rio também tinham equipamentos registrados pela Bio-Oxford e receberam os novos de forma irregular. O Estado não conseguiu falar com os laboratórios.

Indiciado. Na segunda-feira, a polícia indiciou a Bio-Rad e a questionou sobre a quantidade exata de aparelhos no Brasil. Os investigadores querem saber por que a Bio-Rad colocou os equipamentos de forma irregular no País. O Estado entrou em contato com a Bio-Rad no Brasil, com sede em Minas, mas não obteve resposta.

A Bio-Oxford representava a Bio-Rad desde 1999 no Brasil. No ano passado, a matriz americana decidiu pelo fim do contrato antes mesmo do final da sua vigência. Oficialmente, segundo a Bio-Oxford, não houve um motivo. Após isso, a Bio-Rad abriu escritórios no Brasil e passou a fazer o trabalho diretamente. Os equipamentos custam em média US$ 50 mil, além de 70% de impostos de importação. / COLABOROU MARCELO GODOY