Título: BC pode intervir no câmbio para ajudar indústria
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2012, Economia, p. B3

Em entrevista ao "Estado", diretor de política monetária, Aldo Mendes, diz que dólar abaixo de R$ 2 pode não ser bom para o setor

O dólar abaixo de R$ 2 não agrada a equipe econômica e o Banco Central pode voltar a agir. O recado foi dado ontem pelo diretor de política monetária da instituição, Aldo Luiz Mendes. "Minha percepção é que o dólar abaixo desse nível de R$ 2 pode não ser bom para a indústria", disse no fim da manhã.

O aviso mudou os ventos do mercado e a moeda, que recuava, passou a subir, voltou ao nível considerado adequado e terminou a R$ 2,0150, maior valor do dia, em alta de 1,31%.

Em entrevista ao Estado, Mendes deixou clara a insatisfação e a preocupação do governo com o tema. Mais que isso: mostrou que o BC está alinhado com o restante da equipe econômica no esforço de manter o dólar em um patamar favorável às empresas brasileiras.

"O desempenho industrial mais fraco até aumenta a possibilidade de o governo querer um dólar mais alto que a cotação de hoje (ontem)", disse o diretor do Banco Central.

Minutos antes da entrevista, o dólar chegou a ser trocado de mãos por R$ 1,9770. O governo entende que o dólar mais alto é importante para os exportadores, já que torna produtos e serviços brasileiros mais competitivos.

Liquidez. Oficialmente, o BC não tem um objetivo para o preço da moeda e a instituição só intervém para resolver problemas de liquidez. "Não temos uma meta de câmbio, atuamos no ajuste da liquidez", argumentou o diretor. Apesar do discurso, Aldo avisou que o banco pode voltar a comprar dólares, o que evidentemente aumentaria o preço da moeda. "O BC tem atuado numa ponta (a vendedora) e pode atuar na outra (como comprador). Sempre estamos de olho", afirmou o diretor.

A chance de voltar às compras tem até endereço: o mercado futuro. "A dinâmica atual tem sido concentrada no segmento futuro. Se a gente tivesse de voltar a intervir, seria no futuro", disse. Essa simples ameaça foi suficiente para a moeda, em poucos minutos, retornar ao patamar indicado.

O mesmo BC que agora ameaça comprar dólares teve, na semana passada, forte atuação como vendedor da moeda americana. Em três dias seguidos - entre quarta-feira e sexta-feira -, realizou leilões no mercado futuro que corresponderam à venda de cerca de US$ 9 bilhões.

Crise externa. Mesmo com tais intervenções, o diretor do Banco Central afirma que a recente queda do dólar para abaixo de R$ 2 não é responsabilidade do banco. Para ele, a queda é resultado de uma percepção positiva dos investidores sobre a crise externa. "Os anúncios após o encontro da cúpula europeia na semana passada têm consistência um pouco maior do que havia sido divulgado antes. Por isso, houve o recuo do dólar", argumenta Mendes. "Houve alívio para a tomada de risco."

Em Bruxelas, líderes europeus acertaram diretrizes para uma ação conjunta em favor do crescimento e para enfrentar a crise da dívida de vários países da região.

A sinalização dada pelo diretor do Banco Central mostra como a autoridade monetária compartilha ideias com o Ministério da Fazenda e o Palácio do Planalto. No esforço de tentar manter a indústria e o restante da economia aquecida, inúmeras medidas têm sido tomadas nas áreas tributária, fiscal e de crédito.

Sob a responsabilidade do Banco Central, o juro cai desde agosto do ano passado e houve liberação de recursos dos bancos - o compulsório - para crédito de veículos e rural.