Título: Ministro acusa governo anterior no caso Barclays
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2012, Economia, p. B8

Para George Osborne, do Ministério de Finanças britânico, é preciso investigar participação do Partido Trabalhista

O ministro de Finanças do Reino Unido, George Osborne, afirmou ontem que o governo anterior, liderado pelo primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown, está "claramente envolvido" com o escândalo de manipulação da taxa de crédito interbancário Libor pelo banco Barclays.

Na terça-feira, o Barclays divulgou um documento sugerindo que em 2008 uma autoridade do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), sob pressão do governo britânico, pode ter encorajado o banco a mentir sobre os dados que enviava para a formação diária da taxa Libor.

Em um depoimento ontem no Parlamento, o ex-presidente executivo do Barclays Bob Diamond comentou uma conversa que teve com o então diretor executivo do BoE para mercados, Paul Tucker, em outubro de 2008. Segundo ele, o diálogo não foi interpretado como uma instrução para o banco manipular a Libor.

Mas, em uma entrevista para a revista Spectator ontem, Osborne disse que é preciso averiguar o papel do governo trabalhista no escândalo do Barclays, em especial a participação de aliados próximos do ex-premiê Brown. "Eles estavam claramente envolvidos e nós ainda não ouvimos todos os fatos sobre quem sabia o que e quando", afirmou o ministro.

O Partido Trabalhista rebateu as críticas, afirmando que as acusações de Osborne são "falsas" e não são baseadas em nenhuma evidência. "Isso é uma ação desesperada de George Osborne. Um ataque frenético que prejudica a imagem do Ministério de Finanças", comentou Chris Leslie, um dos porta-vozes do partido para questões econômicas. "Agora está cada vez mais claro que ele não está interessado em saber a verdade, e sim em brigas políticas."

Leslie voltou a pedir que o escândalo do Barclays seja investigado pelo poder judiciário. Mas o atual governo do Partido Conservador quer uma apuração mais rápida, feita pelo Parlamento e as autoridades reguladoras.

Depoimento. O ex-presidente executivo do Barclays pediu desculpas pelo comportamento "repreensível" de seus operadores, mas disse a parlamentares britânicos que seu banco havia sido injustamente criticado após admitir publicamente o erro.

Diamond, de 60 anos, renunciou ao cargo após o Barclays ter concordado em pagar quase US$ 453 milhões em multas por manipular as taxas de juros que são referência no sistema global financeiro.

Políticos britânicos veem o caso como símbolo de uma cultura de cobiça que tem manchado todo o sistema financeiro. Jornais destacaram os e-mails revelados no caso, que mostram operadores se parabenizando por manipular números.

Pensativo e mostrando humildade perante o comitê parlamentar, o homem que até terça-feira era um dos executivos financeiros mais bem pagos e poderosos e dono de uma reputação agressiva, reconheceu o comportamento "indesculpável" de seu grupo de operadores.

"Quando leio os e-mails desses operadores, fico fisicamente doente", disse Robert Diamond. "Esse comportamento foi repreensível, foi errado. Peço desculpas, estou decepcionado e muito bravo."

Ele disse que os envolvidos na manipulação das taxas de juros estariam sujeitos a investigação criminal e devem ser tratados com severidade. A contravenção "não representou a companhia que eu amo tanto", disse o executivo americano.

Mas ele também insistiu que o Barclays estava sendo usado como bode expiatório por ter cooperado com as autoridades a ajudar a revelar as infrações. "O foco desta semana tem estado sobre o Barclays porque foi o primeiro", disse Diamond.

A decisão do banco de cooperar com reguladores aparentou ter sido feita para limitar os danos causados pela polêmica, mas o tiro saiu pela culatra, prejudicando a reputação do banco e custando a Diamond seu emprego, disseram analistas do setor.

O Barclays reconheceu que seus operadores agiram conjuntamente com outros a fim de manipular a London Interbank Offered Rate, ou Libor, a taxa usada em empréstimos interbancários e que serve de referência para trilhões de dólares em contratos globais.

Além dessa manipulação, que aconteceu de 2005 a 2009, o banco britânico também admitiu que suas contribuições para as taxas Libor no alto da crise financeira de 2008 fizeram seu balanço parecer mais robusto. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS