Título: Pacote terá impacto limitado, diz consultoria
Autor: Dantas, Iuri
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2012, Economia, p. B4

Para LCA, medidas de apoio ao setor de veículos não evitam queda na produção e aumentam a concentração no setor

A opção do governo Dilma Rousseff de repetir a estratégia de cortar impostos para alavancar as vendas de automóveis terá "impacto limitado" na economia e não deve evitar uma queda de 3,0% na produção de veículos neste ano. Já o aumento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros fabricados fora do País conseguiu frear as importações e aumentou a concentração de mercado nas mãos das chamadas "quatro grandes" montadoras: General Motors, Fiat, Volkswagen e Ford.

O diagnóstico consta de relatório produzido pela LCA Consultores e obtido com exclusividade pelo Estado. De acordo com o documento, as vendas de automóveis no País devem encerrar o ano com estabilidade em relação a 2011.

"Consideramos que os incentivos adotados para estimular a demanda deverão contribuir para uma recuperação gradual do mercado, mas não deverão ser suficientes para evitar um resultado fraco no acumulado de 2012", diz o texto.

A seletividade dos bancos na concessão de financiamentos e o endividamento das famílias devem travar o desempenho do setor automotivo neste ano, avaliam os consultores. Além disso, o prazo médio dos financiamentos está menor neste ano do que em 2009, quando o governo cortou o IPI como medida emergencial em meio à desaceleração da economia.

Pacote. O documento avalia o impacto do pacote anunciado no dia 21 de maio deste ano pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Com o objetivo de reduzir os estoques das montadoras que, ao final daquele mês, atingiam 43 dias, o governo cortou o IPI de automóveis e liberou dinheiro antes represado no Banco Central para incentivar os bancos a financiarem as compras de carro. Com a alteração das regras para o recolhimento compulsório dos bancos sobre depósitos a prazo, o BC liberou volume de crédito de cerca de R$ 18 bilhões para a aquisição de veículos.

Segundo o economista da LCA, Rodrigo Nishida, o resultado esperado pelo governo pode não ocorrer. "O efeito disso sobre o desempenho da economia neste ano é um pouco limitado", aponta.

"Quando terminarem as medidas, se não houver recuperação no mercado de crédito, os licenciamentos de veículos não vão mostrar desempenho tão bom que ajude o PIB", afirma Nishida, fazendo referência ao prazo de 31 de agosto, quando a Receita volta a cobrar o IPI cheio.

Concentração. Segundo o levantamento da consultoria LCA, Volkswagen, Ford, GM e Fiat respondiam por 74% das vendas de carros no País em maio do ano passado.

Depois que o governo sobretaxou os automóveis importados em 30 pontos porcentuais de IPI, a participação de mercado das quatro grandes subiu e atingiu 74,8% em maio deste ano.

Outro impacto perceptível da decisão do governo de encarecer os automóveis estrangeiros foi a queda na participação dos importados nas vendas domésticas. Em dezembro do ano passado, praticamente um em cada quatro veículos vendidos no Brasil vinha de fora, a maior parte da Argentina. Em maio, esse porcentual caiu para 19,6% -menos de um em cada cinco.

Os preços ao consumidor também não recuaram os 10% previstos por Mantega no anúncio das medidas. Segundo Nishida, essa queda paira em torno de 5% a 6%. Isso porque os preços ao consumidor já estavam abaixo da tabela das montadoras, devido a descontos que já eram dados pelos revendedores para tentar diminuir o estoque de veículos antes do anúncio do governo.

Como o desconto negociado com Mantega foi em cima da tabela sugerida pelas empresas, o pacote não resulta em preço tão camarada ao consumidor neste ano, avalia o economista. / I.D.