Título: Placenta consegue bloquear até 80% do quimioterápico
Autor: Bassette, Fernando ; Cupani, Gabriela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2012, Vida, p. A22

Procedimento é fazer o tratamento normalmente e parar a quimioterapia 4 semanas antes do parto para 'desintoxicar' o feto

Apesar do temor de que o bebê seja afetado pela quimioterapia, médicos afirmam que é possível levar a gravidez adiante e fazer o tratamento com segurança, desde que sejam tomados todos os cuidados necessários.

Segundo o mastologista Waldemir Rezende, consultor do Hospital Santa Catarina e médico de Simone Calixto, a placenta bloqueia até 80% dos efeitos do tratamento quimioterápico, o que protege o feto. Como os outros 20% podem alterar a imunidade do bebê, a recomendação é interromper a quimioterapia quatro semanas antes do parto para "desintoxicar" o bebê.

"Há estudos que demonstram que a placenta possui proteínas que destroem produtos químicos, entre eles o medicamento da quimioterapia. Funciona como uma barreira. Os bebês nascem saudáveis", afirmou.

Apesar disso, no Brasil não há recomendação específica sobre a conduta do médico quando recebe uma paciente com câncer durante a gravidez. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), depois do diagnóstico é necessário fazer uma análise multidisciplinar para avaliar os possíveis problemas.

Segundo o Inca, se descoberto na fase inicial, o câncer de mama não interfere no desenvolvimento do feto. Mas, se o estágio estiver muito avançado, pode levar à baixa de peso, restrição de crescimento intrauterino e até a prematuridade do bebê. O órgão enfatiza que o tratamento deve considerar a idade da gestação e o estadiamento (estágio) da doença para definir procedimentos.

Casos. O Inca não possui registros sobre número de casos de mulheres que enfrentaram um câncer na gravidez. O médico Rezende já atendeu 34 pacientes com esse diagnóstico - Simone é a mais recente.

De acordo com ele, a indicação é iniciar a quimioterapia depois de 12 semanas de gestação, quando o bebê já está formado. "Mas, em geral, a mulher só vai receber o diagnóstico depois dessa fase mesmo." A cirurgia de retirada da mama pode ser feita durante a gravidez ou logo após o parto - depende de cada caso.

O principal fator complicador, segundo Rezende, é que em geral o tumor se alimenta dos hormônios estrógeno e progesterona, que estão elevados na gestação. Além disso, o organismo da mulher produz mais vasos sanguíneos para nutrir a placenta - e esses mesmos vasos ajudam a alimentar o tumor.

E, por último, a mulher grávida tem a imunidade reduzida para "não rejeitar" o feto, já que 50% dos genes são do pai e o organismo dela entende isso como corpo estranho. / F.B.