Título: Saldo comercial do semestre é o pior em 10 anos e acende luz amarela no governo
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2012, Economia, p. B1

Superávit em junho foi de US$ 807 milhões; de janeiro a junho, o saldo foi de US$ 7 bi, queda de 45,4% ante o mesmo período de 2011

A balança comercial brasileira registrou o menor superávit dos últimos dez anos para meses de junho e para primeiros semestres. O resultado acendeu a luz amarela no governo que já estuda novas medidas para ajudar os exportadores. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) também pode reduzir a meta de exportação do ano, que é de US$ 264 bilhões.

O superávit em junho foi de apenas US$ 807 milhões. De janeiro a junho, o saldo acumulado foi positivo em US$ 7,07 bilhões, uma queda de 45,4% em relação ao mesmo período de 2011. As vendas externas somaram US$ 117,2 bilhões, queda de 0,9% frente aos seis primeiros meses do ano passado. As importações ficaram em US$ 110,1 bilhões, alta de 4,6% e recorde para o período.

"É um ano difícil para o comércio mundial. Havia uma expectativa de que houvesse uma recuperação que não houve", disse a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. O governo atribuiu o resultado à crise global, que provocou retração da demanda e queda no preço internacional de algumas commodities. "Temos um refluxo da crise cada vez mais forte. Esse é um problema que terá de ser enfrentado no segundo semestre", disse o secretário executivo do MDIC, Alessandro Teixeira.

Greve. A greve dos auditores fiscais da Receita Federal ajudou na piora dos números em junho. Muitos exportadores estão com dificuldades para embarcar as mercadorias. Em outros casos, o produto é exportado, mas o registro da operação não é feito. Teixeira disse que os números de junho poderiam estar melhores se não fosse pela greve, mas o fato não altera a tendência prevista para o comércio mundial.

"Nós temos uma crise e a nossa expectativa era que melhorasse no segundo semestre, mas, se continuar dessa forma, não vai melhorar", sentenciou. Ele acrescentou que o comportamento da balança em julho será essencial para definir a manutenção ou não da meta de exportação em 2012. "A situação em junho nos acende a luz amarela. Não dá para dizer com certeza que vai mudar a meta. Precisamos ver o mês de julho."

Medidas. Teixeira disse que a principal queixa dos exportadores na atual conjuntura é acesso a mercado, em função da baixa demanda global. Ele antecipou que o governo está trabalhando em medidas para ajudar as empresas, mas disse que não poderia antecipá-las porque estão em fase "muito preliminar".

Para o secretário, é preciso "avançar" na política industrial e continuar adotando instrumentos para defender a indústria da concorrência "espúria" dos importados. Ele lembrou que os países do Mercosul preparam a elevação do Imposto de Importação para 200 produtos. Mas rejeitou que a medida seja protecionista. "Não se pode confundir defesa com proteção."

As exportações tiveram queda em todas as categorias e para todos os mercados em junho.