Título: Dólar cai a R$ 1,99, menor nível desde o fim de maio
Autor: Modé, Leandro ; Rocha, Silvana
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2012, Economia, p. B4

Melhora da percepção sobre Europa e intervenções recentes do BC levam investidores a reduzir aposta na alta da moeda americana

Pela primeira vez desde 29 de maio, o dólar encerrou uma sessão valendo menos de R$ 2,00. Em meio à onda de relativo otimismo com o encaminhamento da crise europeia, a moeda americana caiu 1,04% ontem, cotada a R$ 1,989. No ano, o dólar ainda acumula valorização de 6,4% ante a moeda brasileira. Em 12 meses, a alta chega a 28%.

Um analista do mercado de câmbio destacou também as recentes atuações do Banco Central (BC). Na semana passada, lembrou, a instituição fez leilões no mercado futuro (que equivalem à venda de moeda americana) num total de US$ 9 bilhões.

"Na sexta-feira, o BC nem precisava ter realizado intervenções, pois o acordo dos líderes europeus se encarregou, sozinho, de diminuir a tensão no mundo", argumentou. "Mesmo assim, o BC atuou e isso indicou para os investidores que queria um dólar mais baixo."

Esse especialista observou que, nas condições atuais do mercado brasileiro, em que o fluxo de entrada de dólares é bem inferior ao dos últimos anos, o BC é um ator fundamental para o destino das cotações. "Antes, quando dólares inundavam o Brasil, não havia muito o que o BC pudesse fazer para interferir na taxa de câmbio. Hoje é diferente", afirmou.

Alguns indicadores e informações de bastidores apontaram, nos últimos dias, reversão nas apostas de desvalorização do real ante o dólar. Um grande investidor que apostou na alta do dólar na semana passada teria zerado sua posição comprada em mercado futuro ontem de manhã, atraindo outros agentes para o mesmo caminho. A informação é de um operador de tesouraria de um grande banco.

Vale destacar que, na semana passada, por causa das preocupações com a crise na zona do euro e seus efeitos sobre a economia mundial, os investidores estrangeiros encerraram o pregão de sexta-feira com posição comprada de 114.784 contratos de derivativos cambiais (US$ 5,739 bilhões). Essa posição era 30,67% maior que a registrada na sexta-feira anterior. O aumento foi garantido pela elevação de 65% nas apostas na alta do dólar futuro.

O operador Ovídio Pinho Soares, da corretora Interbolsa Brasil, observou que movimentos especulativos costumam ser iguais, para cima e para baixo. Segundo ele, depois de exagerar na compra de dólar na semana passada, ontem os investidores reforçaram a desmontagem das posições compradas, levando o dólar para baixo.

Soares atribui a reversão de posições ao fato de os bancos terem encerrado a primeira parte do ano fortemente comprados em dólar. Agora, depois que a União Europeia adotou medidas para recapitalizar os bancos da região e o governo brasileiro flexibilizou operações de pagamento antecipado de exportações, os investidores estão ajustando "a aposta exagerada na alta do dólar", segundo Soares.

Analistas observam que a tendência dos últimos dois dias - nos quais o dólar caiu quase 5% ante o real - pode não se manter. Eles lembram que o mercado ainda deve permanecer volátil, em razão dos temores sobre o rumo da economia global. De outro lado, um agravamento do prognóstico econômico dos Estados Unidos tem potencial para acionar uma nova rodada de relaxamento quantitativo, o que acabaria causando o enfraquecimento do dólar em escala global.

Relaxamento quantitativo (ou quantitative easing, em inglês) é um programa adotado pela autoridade monetária americana (Fed) que, na prática, implica o aumento da quantidade de dólares em circulação no mundo. / COLABOROU NALU FERNANDES