Título: Montadoras cortam produção em junho e regularizam os estoques
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2012, Economia, p. B1

Com a alta das vendas, embalada pela redução de imposto, a indústria automobilística reduziu os estoques de 43 para 29 dias

Com vendas recorde para o mês de junho, embaladas pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a indústria automobilística conseguiu reduzir os estoques de carros novos de 43 para 29 dias, período considerado "saudável" pelo setor. Foram vendidos no mês passado 353,2 mil veículos, 22,9% mais que em maio e 16,1% que em junho de 2011. Desse total, 340,6 mil são automóveis e comerciais leves, alvos do benefício fiscal.

A média diária de vendas de carros subiu de 12,4 mil em maio para 17 mil no mês passado e vem mantendo esse ritmo nos primeiros dias de julho. Na terça-feira foram licenciados 17,1 mil veículos e na quarta-feira, 17,6 mil. Os estoques baixaram de 409 mil para 342 mil veículos.

O bom desempenho das vendas - que também contou com facilidades no financiamento - não se refletiu, ainda, na produção. Houve recuo de 2,6% em relação a maio e de 7,6% na comparação com um ano atrás, com 273,6 mil unidades fabricadas.

O setor aposta em reversão do quadro nos próximos meses. Várias empresas que operavam com jornada reduzida retomaram as atividades. Fiat e Volkswagen, por exemplo, voltaram a fazer hora extra em fins de semana.

"A tendência é de aumento de produção", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes e Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. Segundo ele, vários fornecedores de autopeças afirmam que os cortes nas encomendas pararam.

Belini credita a retomada das vendas à redução do IPI, anunciado em 21 de maio, e com previsão de acabar em 31 de agosto. Ele diz que a Anfavea não está pleiteando prorrogação do benefício, pois acredita que a economia como um todo vai melhorar nesse segundo semestre. Dirigentes do setor, porém, já declararam que, sem o subsídio, não será possível atingir a meta de crescimento.

O corte do IPI, diz Belini, levou à queda na estimativa de geração diária do imposto, de R$ 38,9 milhões para R$ 18,5 milhões. Quando somados outros impostos (PIS, Cofins e ICMS), a estimativa passa de R$ 168 milhões para R$ 171,3 milhões. "A arrecadação foi mantida."

Inicialmente, a Anfavea trabalhava com alta de 4,5% a 5% em relação aos 3,6 milhões de veículos vendidos em 2011, mas Belini não tem novas projeções. A Fenabrave - que reúne os concessionários - já trabalha com previsão de queda de 0,4% no segmento de automóveis e comerciais leves. Para caminhões e ônibus, a redução pode chegar a 30%.

No semestre, as vendas somam 1,71 milhão de veículos, queda de 1,2% em relação ao mesmo período de 2011. Até maio, a queda acumulada era de 4,8%. Na produção, o recuo é de 9,4%, para 1,55 milhão de unidades, quase o mesmo porcentual do mês anterior, de 9,5%.

Empregos. Mesmo com a produção em queda, a indústria contratou 1,9 mil funcionários em junho. A maioria é de pessoal terceirizado que passou a fazer parte da folha de pagamento da Fiat, em Betim (MG). Toyota e Hyundai também estão contratando para iniciar operações nas fábricas de Sorocaba e Piracicaba.

Ao mesmo tempo, há demissões em fábricas que passam por reestruturação, como a da GM em São José dos Campos. Nas últimas semanas, a empresa dispensou 356 pessoas e pode cortar mais, com a possível desativação da uma linha de montagem. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antonio de Barros, fala em até 1,5 mil cortes.

No setor de caminhões, também há cortes. A Volvo dispensou 208 funcionários em Curitiba e a produção foi reduzida de 107 para 83 caminhões ao dia. A Mercedes-Benz tem 1,5 mil funcionários em lay-off (dispensa temporária) até o fim de outubro.