Título: Investidor paga para emprestar à Alemanha
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2012, Economia, p. B1

Disparidade entre a 1ª economia do euro e a 4ª, a Espanha que teve de pagar juro insustentável, fica ainda mais evidente

A moeda do euro tem de fato dois lados. Ontem, o governo da Espanha é obrigado a pagar uma taxa de juro recorde para se financiar e esteve mais uma vez à beira de declarar a incapacidade de se financiar apenas no mercado. Já a Alemanha vive um fenômeno totalmente oposto: eram os investidores que estavam pagando ontem para financiar o Estado alemão, em troca de um lugar seguro para seu dinheiro.

A disparidade não é entre a maior economia da região e a mais insignificante delas. Mas si entre a número 1 e a número 4.

Nos últimos meses, a economia alemã se transformou em um destino seguro para capital de toda a Europa, em busca de estabilidade e risco zero em meio à crise 200 bilhões saíram dos bancos espanhóis e um volume importante também deixou Grécia e Portugal.

Ontem, quando o Tesouro alemão colocou em leilão papéis de sua dívida, a procura foi tão intensa que a taxa de juros que paga como prêmio ao investidor por apostar na capacidade do país de o compensar atingiu uma taxa negativa. Ela bateu um índice de -0,3%, um recorde. Segundo o Bundesbank, o BC alemão, a procura pelos 5,5 bilhões em papéis colocados no mercado bateu todas as previsões.

A crise, segundo analistas em Frankfurt consultados pelo Estado, garantiu à Alemanha dois anos de um financiamento quase sem custos ao Estado, algo inédito nos últimos 70 anos. Só em 2011, a estimativa é de que Berlim economizou 20 bilhões em juros que poderia ter de pagar para financiar suas dividas.

O fenômeno de ontem foi além e revelou que investidores, diante das incertezas na Europa, estão dispostos a pagar para deixar seu dinheiro em um local seguro. Os alemães comemoraram. Afinal, essa é a segunda vez que isso acontece este ano.

Lado oposto. Em um dia em que ficou evidente todas as contradições na Europa, a Espanha viu a taxa de risco bater um novo recorde, mesmo diante de todas as promessas de reformas e do resgate que receberá da UE para seus bancos. Ontem, títulos do Tesouro espanhol com maturidade de dez anos atingiram uma taxa de juros de 7%, considerada como insustentável.