Título: Europa ergue nova Cortina de Ferro, mas entre o sul e o norte
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2012, Economia, p. B1

Aumentam os sinais de que a união monetária e econômica da Europa pode estar se fragmentando tão rápido a ponto de os governantes mal conseguirem repará-la.

No dia 29 de junho, os líderes da zona do euro concordaram com os princípios do estabelecimento de uma autoridade supervisora conjunta do setor bancário para a área da moeda única composta por 17 nações, com base no Banco Central Europeu, embora a maior parte dos detalhes ainda precise de elaboração.

A proposta foi um primeiro passo provisório rumo à união europeia de bancos que poderá se caracterizar por uma garantia de depósitos conjunta e um fundo de resolução de crises para o setor bancário. O objetivo é impedir a corrida aos bancos e o colapso das instituições, problemas que poderiam enviar ondas de choque por todo o continente.

Mas é possível que a tentativa de estabelecer às pressas os primeiros elementos desse sistema até o próximo ano ocorra tarde demais.

A fuga dos depósitos dos bancos espanhóis está acelerando e não se sabe ao certo se um acordo da zona do euro para um empréstimo de até 100 bilhões a Madri em fundos de ajuda será capaz de reverter o fluxo, caso os investidores temam que a Espanha possa enfrentar um resgate total da dívida soberana.

Muitos bancos estão se reorganizando - ou sendo forçados a se reorganizar - de acordo com linhas nacionais, acentuando uma divisão entre norte e sul cada vez mais profunda.

Uma barreira financeira invisível, possivelmente mais perigosa do que a Cortina de Ferro que outrora dividia o Leste europeu da Europa Ocidental, está se erguendo lentamente no interior da zona do euro.

A discrepância dos juros entre os países credores do norte da Europa - como Alemanha, nos quais os custos dos empréstimos são os mais baixos de todos os tempos -, e os países devedores do sul - como Espanha e Itália, onde os rendimentos dos títulos subiram muito -, já ameaça consolidar uma divergência permanente.