Título: Brasilienses são os maiores devedores
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2012, Economia, p. B1

Donos da maior renda por habitante no País, brasilienses são os maiores devedores do Brasil. Na média, cada um dos 2,5 milhões de habitantes do Distrito Federal deve R$ 11.202,69 aos bancos e financeiras. Isso não significa um calote maior, já que a taxa de inadimplência é de 4,6% na capital federal, menor que a maioria dos Estados. Na outra ponta, paraenses têm a menor dívida per capita: R$ 1.993,23 por morador.

Dados do Banco Central mostram que a dívida dos brasilienses é 2,5 vezes maior que a média nacional. Especialistas em finanças pessoais explicam que, além da renda elevada, os moradores do DF têm um fator especial que incentiva a tomada de crédito: a estabilidade no emprego.

Como boa parte do mercado de trabalho em Brasília é do setor público, esses trabalhadores só são demitidos em casos excepcionais. Por isso, há segurança em tomar empréstimo ou financiamento e o brasiliense tem dívida que já alcança quatro vezes a renda mensal. No Pará, clientes são mais conservadores e o endividamento representa duas vezes a renda mensal.

Não é comum o professor paraense Anacleto Ferreira de Souza, de 43 anos, ir a banco pedir empréstimo. Ele só faz isso quando realmente precisa e toma algumas precauções para não se endividar além da conta. Primeiro, procura saber se o banco onde tem conta oferece juros baixos. Depois, faz uma espécie de "cálculo infalível" sobre o prazo de pagamento do empréstimo.

"Tempo muito longo para pagar é ruim. O valor que você paga, no final da prestação, acaba sendo muito alto, às vezes mais de 60% do total emprestado. Prefiro pagar em prazo médio, negociando os juros para baixo",diz.

Caboclo de Primavera, município do nordeste do Pará, Souza diz que, se todo brasileiro fosse como ele, os banqueiros não teriam a vida mansa que têm".

"Eu sou desconfiado, ninguém me enrola, nem meu gerente, que é um cara gente boa. Não faço dívida à toa, como muita gente", confessa.

Qual a fórmula para escapar de uma dívida que, lá na frente, pode virar uma bola de neve? Souza responde de maneira objetiva e direta: só contrair empréstimo, ou mesmo fazer uma compra, se tiver capacidade de pagar em prazo não muito longo e com prestação que seja suportável. "Tem muito brasileiro gastando o que não pode, desfilando com carrão do ano, mas pendurado até o pescoço no banco. Faz bem para a minha saúde não ter tantas dívidas, só as que eu posso pagar." /F.N. e CARLOS MENDES