Título: Premiê chinês pede medidas fortes para conter desaceleração econômica
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2012, Economia, p. B6

Wen Jiabao atribui queda à crise europeia; analistas dizem que os cortes de juros terão pouco efeito em estimular investimentos na China

O premiê chinês Wen Jiabao alertou ontem para a "imensa pressão descendente" sofrida pela economia da China, na mais clara expressão de preocupação vista até o momento entre o alto escalão dos líderes do país em relação ao acentuado declínio observado nos últimos meses.

Durante uma viagem de inspeção de fim de semana no centro-leste da China, o premiê atribuiu a desaceleração à fraca demanda no exterior, em especial na Europa, que vive uma severa crise. Wen pediu ao governo que "redefina e ajuste suas políticas de maneira mais agressiva", usando ferramentas fiscais e monetárias para compensar os efeitos da desaceleração econômica e transmitir confiança à população.

Entre as recentes medidas do governo para combater a desaceleração está o corte na taxa de juros. Foram três no último mês, o último deles na sexta-feira. Analistas, porém, dizem que o corte terá pouco impacto em estimular o crescimento da segunda maior economia do mundo.

"Não acreditamos que o custo de captação seja alto para a expansão dos investimentos, mas sim que o setor privado perdeu totalmente o interesse em investir", escreveu em nota a clientes Dong Tao, economista-chefe do Credit Suisse para a China. Em sua opinião, o país está em uma "armadilha de liquidez", na qual injeção de recursos e redução da taxa de juros não serão suficientes para dar vigor à economia.

A economista-chefe do UBS para a China, Wang Tao, disse ao Estado que não concorda com o diagnóstico de "armadilha de liquidez", mas coincidiu na avaliação de que a redução dos juros não deverá influenciar a atividade econômica de maneira significativa.

"As empresas não querem realizar empréstimos porque elas não acreditam que podem lucrar com a expansão de seus negócios", observou.

A mesma avaliação é feita por Andrew Sullivan, do banco de investimentos Piper Jaffray. "As empresas não vão investir para exportar porque elas não têm para quem vender", observou Sullivan. No mercado interno, a concorrência é grande e as margens de lucro, baixas, afirmou.

Wang acredita que a redução nos juros poderá estimular o crédito imobiliário, mas terá pouco impacto sobre a produção industrial. "Diante da fraca demanda e excesso de capacidade, as corporações devem permanecer cautelosas", escreveu a economista.

Maior exportador do mundo, com uma fatia de 10% das vendas globais, a China sofre as consequências do tsunami que atinge a Europa, principal destino de suas vendas.

Na quinta-feira, o vice-primeiro-ministro Wang Qishan disse que o país terá dificuldades para atingir a meta de expansão de 10% do seu fluxo de comércio em 2012. No ano passado, a soma das exportações e importações chinesas foi de US$ 3,64 trilhões, alta de 22,5% em relação a 2010.

Lu Zhengwei, economista do Societé Generale, lembrou que as exportações líquidas tiveram impacto negativo de 0,8% no resultado do PIB do primeiro trimestre e continuarão a puxar os números para baixo.

Em sua avaliação, o corte dos juros anunciado vai ter impacto positivo na medida em que reduzirá o custo de financiamento das empresas. Lu espera que a economia reaja no segundo semestre, quando deverão estar em andamento projetos de infraestrutura que o governo passou a aprovar em ritmo acelerado a partir de maio.

Na opinião de Wang Tao, do UBS, o governo decidiu cortar os juros em razão de indicadores fracos sobre a economia em junho - os dados sairão esta semana - e da baixa expansão do crédito. Segundo ela, o volume de novos empréstimos em junho foi de 820 bilhões de yuans (US$ 129 bilhões), inferior à expectativa do mercado de até 1 trilhão.

Dong Tao, do Credit Suisse, aponta ainda para o fato de que o anúncio do governo em maio de que iria acelerar projetos de infraestrutura não surtiu o efeito desejado. "Dados iniciais indicam que o estímulo falhou em reanimar a economia.". / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS