Título: No Rio, fiéis se despedem de Cardeal
Autor: Sturm, Heloisa Aruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/07/2012, Vida, p. A14

Pessoas saem de outras regiões do Brasil para dizer adeus ao arcebispo emérito do Rio; em telegrama, Bento XVI chama d. Eugenio de "intrépido pastor"

Memória

O velório do cardeal dom Eugenio de Araújo Sales, arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi marcado pela serenidade. Cerca de 500 pessoas acompanharam ontem a chegada do corpo à Catedral de São Sebastião, no centro do Rio.

D. Eugenio, que morreu na noite de anteontem, aos 91 anos, será sepultado hoje, na cripta da catedral, após a missa exequial que ocorrerá às 15 horas e será presidida pelo arcebispo do Rio, d. Orani João Tempesta.

Na entrada da catedral, o corpo do cardeal foi recebido com uma salva de palmas dos fiéis e com a execução do Hino Nacional e da Marcha Pontifícia, o Hino do Vaticano, pela Companhia de Músicos da Polícia Militar.

Muitos se emocionaram com a cena que veio a seguir. O voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, soltou uma pomba branca, símbolo da paz, como parte da solenidade. Mas, em vez de voar, a ave pousou sobre o caixão e ali permaneceu durante mais de uma hora. "Eu não sei o que aconteceu, mas sei que tem um propósito para isso. Só mostra que ele está presente aqui, abençoando todos", disse o voluntário, emocionado.

A primeira missa de corpo presente foi presidida por d. Orani, que relembrou a trajetória daquele que dedicou quase 70 anos de sua vida ao sacerdócio e foi considerado pelo papa Bento XVI um "intrépido pastor" e um "ponto de referência e de fidelidade à Sé Apostólica" (mais informações nesta página). "Ele soube trabalhar tanto na elaboração dos planos pastorais da arquidiocese, para evangelização das comunidades e aprofundamento da fé, como também na presença do Brasil junto à Santa Sé", afirmou o atual arcebispo.

Além de autoridades religiosas, estiveram presentes ao velório o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, e o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Exemplo. Durante todo o dia, fiéis puderam participar da cerimônia de despedida do cardeal, que esteve durante três décadas à frente da Arquidiocese do Rio. Além das missas que ocorriam a cada duas horas até a meia-noite, estava programada também uma vigília durante toda a madrugada, aberta à população.

Muitos dos fiéis vieram em pequenos grupos, representando diferentes movimentos eclesiásticos, até mesmo de outras regiões do País. "D. Eugenio foi um exemplo de santidade para a Igreja e para o povo do Rio de Janeiro. E isso se estendeu também para nós, que não somos do Rio", disse a missionária Meire Ferreira Machado. Ela participa da comunidade Aliança de Misericórdia, de São Paulo, e está na cidade realizando uma missão de evangelização pelas ruas do centro, em conjunto com jovens voluntários do interior de São Paulo, de Minas e do Ceará. "Foi com alegria que recebemos a notícia, porque temos hoje um santo no céu que pode estar intercedendo por nós."

Pesar. Em nota, a presidente da República, Dilma Rousseff, lamentou ontem a morte de d. Eugenio de Araújo Sales, comunicando pesar e "solidariedade ao povo do Rio de Janeiro e a todos os admiradores, familiares e amigos". "Em sua trajetória, a preocupação social sempre esteve associada ao trabalho eclesiástico, como bem sintetizam as Campanhas da Fraternidade, uma de suas iniciativas, que marcam a ação da igreja em todo o Brasil", afirmou a presidente.

Outras autoridades também se pronunciaram. O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), afirmou que a liderança religiosa de D. Eugenio foi "a mais importante do nosso Estado" e declarará três dias de luto. "Era amado pelo povo do Rio de Janeiro", completou.

O prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PMDB), disse que d. Eugenio "marcou a cidade e o Brasil, pela sua solidariedade, pela sua série de iniciativas na Igreja Católica, como líder espiritual. É um dia de tristeza, de luto, mas é também um dia de homenagem à história de um grande homem." / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA, DE BRASÍLIA