Título: Decisão se ajusta à fase de transição que a economia vive
Autor: Gerbelli, Luiz Guilherme ; Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2012, Economia, p. B3

A redução da taxa básica de juros para 8% ao ano, com mais um corte de 0,50 ponto definido pelo Copom, restabelece de vez a convergência entre o Banco Central e o mercado. Nove entre dez analistas apostavam que o BC faria o que fez na reunião de ontem. Também são agora poucas as discordâncias a respeito das futuras decisões sobre os juros básicos. A dúvida é estreita e se resume a considerar se a taxa Selic fechará 2012 em 7,5 % ou 7%.

O consenso estabelecido em torno da continuidade dos cortes nos juros acompanha a convergência das projeções de uma trajetória da inflação na direção do centro da meta. Com a evolução desfavorável da atividade econômica, os analistas passaram a projetar quedas sistemáticas no IPCA em 2012.

Tem havido pouca marola em relação às decisões de política monetária. O clima nem de longe lembra o de pouco menos de um ano atrás, quando BC e mercado, a partir de um "inesperado" corte na Selic em agosto de 2011, envolveram-se numa estridente queda de braço. Talvez parte do armistício se deva ao intrigante momento de falta de sintonia dos dados econômicos com os conceitos da teoria convencional. As chamadas "taxas naturais" estão levando uma surra da realidade.

A conhecida "Nairu" (a taxa de desemprego que não acelera a inflação, na sigla em inglês), por exemplo, está tendo, no Brasil de hoje, comportamento totalmente fora do padrão. O desemprego, na faixa baixíssima de 5%, não combina com uma inflação cadente, como a atual. Também não combina com um nível de atividade tão fraco.

Esse é um quadro que estimula a percepção de que a economia se encontra numa fase de transição. Se embicar ainda mais para baixo, implicará uma extensão do afrouxamento. Se for para cima, no encerramento mais rápido do ciclo já longo de cortes nos juros.