Título: 'Empresa não investe sem retorno', diz Delfim
Autor: Assis, Francisco Carlos de
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2012, Economia, p. B5

Ex-ministro discorda de cobrança de Mantega para que empresários confiem mais na economia e sejam mais ousados nos investimentos

Defensor da política econômica do governo, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto discorda das cobranças que o atual titular da pasta, Guido Mantega, tem feito para que os empresários despertem seu "espírito animal", confiem mais na economia e sejam mais ousados para investir.

"O ministro está fazendo o papel dele, mas não pode pedir ao empresário que invista se ele não tem uma taxa de retorno", disse Delfim, durante palestra a um grupo de 30 alunos do 2º Curso Estado de Jornalismo Econômico, realizado pelo Estado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O governo, segundo Delfim, não tem recursos para fazer os investimentos que o País necessita e precisa atrair os investimentos do setor privado. Para isso, precisa fazer reformas estruturais que garantam as condições de retorno para o empresário.

"O Brasil tem projetos com taxas de retorno de 11% para 20 anos. O governo é que precisa ter mais ousadia", afirmou Delfim.

O ex-ministro defende as políticas econômica e monetária do governo Dilma Rousseff e disse estar certo de que elas darão resultados. "A política de juros atual está correta e vai mostrar as suas vantagens. O Brasil é o último peru com farofa disponível", afirmou, bem humorado.

Perguntado sobre as críticas de que as medidas para enfrentar a crise são de curto prazo e voltadas para o consumo, que já estaria esgotado, Delfim discordou. Para ele, o governo tem tomado medidas de curto prazo em legítima defesa. "O Brasil tem agido em legítima defesa, e agiu tarde porque destruiu seu sistema industrial com a desvalorização cambial", disse o ex-ministro.

Ainda de acordo com ele, "a ideia de que o consumo está esgotado é um exagero".

Segundo o ex-ministro, é exagero dizer que o consumidor deixou de tomar crédito. O que falta, de acordo com ele, é oferta e não demanda. E a falta de crédito, para Delfim, tem a ver com equívocos do governo. "O proprietário de um carro no leasing é um banco. Ai aparece um secretário esperto e quer cobrar IPVA dele. Outro quer cobrar as multas de trânsito. Ai, os bancos preferem sair deste negócio", diz o ex-ministro da Fazenda.

Para este ano, o ex-ministro projeta uma taxa de crescimento do PIB em torno de 2%, mas prevê que entre o quarto trimestre do 2011 e o último trimestre deste ano a economia estará oscilando ao redor de 4%. Delfim avalia também que vai demorar para o desemprego no setor industrial bater na economia porque o setor de serviços continua absorvendo trabalhadores.