Título: Jornalista debate cobrança na internet
Autor: Manzano, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2012, Nacional, p. A8

David Carr defende modelo adotado pelo 'New York Times', cujo conteúdo passa a ser pago após certo número de notícias acessadas

Um novo modelo de "casamento" entre jornal impresso e internet - o chamado paywall, sistema em que o jornal oferece grátis, no site, uma parte de suas notícias e dali por diante passa a cobrar - foi defendido ontem, em São Paulo, pelo americano David Carr, do jornal The New York Times.

Em palestra no Estado, Carr definiu como "bem-sucedida" a experiência do Times, que adotou a fórmula há cerca de um ano. Hoje o site tem cerca de 500 mil assinantes digitais que geram uma receita de US$ 100 milhões, num faturamento global de US$ 1,5 bilhão.

Repórter e colunista de mídia do jornal, Carr está em São Paulo para o 7.º Congresso de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Amanhã, no encerramento do encontro, ele participa de um debate sobre o documentário Page One: Inside de NY Times, do qual é narrador.

Bem-humorado, mas sem esconder a preocupação com o futuro dos jornais, Carr falou sobre TV na internet, conteúdo e publicidade no Twitter e no Facebook, a relação entre custos e faturamento. Aqui e ali, defendeu a importância da relação entre leitores e a notícia impressa.

"Não se deve ter medo de cobrar", disse ele sobre o paywall. "A água é grátis, mas as pessoas aceitam pagar por ela. Sabem que é um produto de qualidade, numa garrafinha bonita."

E foi além: "Os jornais não devem ter medo de brechas, como o acesso a notícias do site via Twitter, Facebook e e-mails". "As pessoas acabam se cansando desses expedientes e pagando pelo conforto", afirmou. E, se o New York Times tem qualidade e variedade para adotar o paywall, "cabe aos demais jornais, quando entram no negócio, testar, testar, testar".

Futuro. Carr também não se assusta com o futuro da notícia impressa. "Jornais terão de se adaptar, quem sabe virarão artigos de luxo, mas continuarão sendo necessários. Eles oferecem algo precioso: a organização, o dimensionamento das noticias", disse. "Jornal está ali, disponível a qualquer hora. No digital, o cidadão passa os olhos rapidamente, não fixa nada e vai fazer outra coisa."

Os problemas financeiros que afligem os pequenos jornais americanos é outra preocupação - muitos estão sendo fechados. Segundo ele, grandes jornais acharão fórmulas para sobreviver e os muito pequenos seguirão em seu pequeno mundo. "Mas, para os médios, as perspectivas são difíceis."

Carr ironizou novos modelos de sites que "cedem espaço" para notícias mandadas por internautas e em seguida votam nas melhores, que vão para a primeira página. "Isso precisa de um filtro fundamental, feito por jornalistas, e que é fundamental para garantir qualidade e interesse."

Como brincadeira, lembrou que certa vez publicou no Facebook uma notícia dele, importante, e recebeu dois comentários. "Pouco depois, postei uma foto de minha filha e vieram 2 mil "curtir". Mas qual a importância disso?"