Título: Sensação térmica é de economia aquecida
Autor: Veríssimo, Renata ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2012, Economia, p. B3

Vai-se mais um mês de fraco desempenho da economia, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central. Oscilações de curto prazo à parte, o que se nota é uma economia patinando há um ano. Esse resultado, no entanto, sintetiza movimentos divergentes quando se compara o desempenho da produção industrial (ou o lado da oferta na economia) com as vendas no varejo ou consumo das famílias (um dos componentes da demanda). Há um descompasso entre oferta e demanda. Enquanto a primeira sofre desde o início de 2010, a segunda ainda exibe tendência de alta, apesar da desaceleração na margem.

O bom desempenho do consumo mantém o dinamismo do mercado de trabalho, fazendo com que a "sensação térmica" dos indivíduos seja de economia aquecida: ruas movimentadas, dificuldade para contratar mão de obra ou serviços, reduzido medo de perder o emprego.

Duas perguntas naturalmente emergem: por que o crescimento no Brasil tem decepcionado, apesar de ser um país de tantas oportunidades, e qual o risco de a fraqueza da indústria contaminar o consumo das famílias de forma mais clara.

Seria simplista culpar a crise externa por todos os nossos males, ainda que seja relevante, pois o desempenho do Brasil tem sido pior que o de seu pares. No Chile e no México, por exemplo, indicadores de atividade semelhantes cresceram 5,3% em maio e abril, respectivamente.

A correlação entre produção industrial doméstica e mundial enfraqueceu nos últimos anos. Nossa indústria ficou para trás. Assim, fatores domésticos podem ser preponderantes para explicar o baixo crescimento, sendo o vilão a baixa competitividade da indústria nacional, agravada pela alta da mão de obra. O empresário que já enfrentava os já conhecidos gargalos estruturais teve de se adaptar ao maior peso da folha de pagamentos, ficando desmotivado para investir.

Quando haverá contaminação do consumo? Com os cortes dos juros, talvez isso não ocorra de forma relevante. É verdade que a resposta do mercado de crédito ao juros menores pode ser mais lenta, tendo em vista a postura mais conservadora de bancos e talvez de consumidores diante da alta inadimplência. Mas isso não deve anular o efeito de juros em níveis inéditos.

Dados os bons indicadores externos e internos de solvência do Brasil, é possível que possamos manter esse quadro de consumo crescendo em ritmo mais forte do que a oferta por mais alguns anos, contando, para tanto, com o financiamento externo. Mas é isso que queremos?