Título: À espera do PIB, crédito cresce na China
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2012, Economia, p. B8

Empréstimos concedidos em junho tiveram aumento de 16%, acima do esperado, reforçando a possibilidade de que a economia reaja

O volume de crédito concedido pelos bancos chineses cresceu 16% em junho, acima do esperado pelos analistas, reforçando a possibilidade de que a economia reaja nos próximos meses. Hoje será divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que deve ser o mais baixo desde os primeiros três meses de 2009, quando o mundo estava no auge na crise financeira global.

Os empréstimos concedidos no mês passado somaram 919,8 bilhões de yuans (R$ 295,1 bilhões), resultado superior à média de 880 bilhões de yuans esperados por economistas entrevistados em pesquisa da agência Bloomberg.

A elevação do crédito é o primeiro sintoma de que haverá aumento de investimentos, o que deverá impulsionar o crescimento da segunda maior economia do mundo.

A expansão do PIB no último trimestre ficará entre 7,5% e 7,7%, de acordo com previsões dos analistas, no que será o mais baixo patamar desde os 6,1% dos primeiros três meses de 2009. O resultado representará o sexto trimestre consecutivo de desaceleração da China.

Hoje também será divulgada a variação da produção industrial, dos investimentos e das vendas no varejo. Anunciada na segunda-feira, a inflação caiu para 2,2%, o que ampliou o espaço do governo para adotar medidas de estímulo ao crescimento e uma política monetária expansionista.

Estímulos. A perda de fôlego do país se acentuou a partir de abril, com deterioração de todos os indicadores - do comércio exterior à produção industrial. O ritmo de expansão da China é vital para o Brasil, que tem no país asiático o principal destino de suas exportações.

Em maio, o governo anunciou medidas de estímulo à economia, bem mais tímidas do que o megapacote anunciado em novembro de 2008, que garantiu a expansão chinesa em meio à recessão global.

Entre outras decisões, Pequim decidiu acelerar a aprovação de projetos industriais e de infraestrutura, incluindo investimentos de 133,7 bilhões de yuans (R$ 42,9 bilhões) em duas siderúrgicas com capacidade para produzir 19,2 milhões de toneladas de aço por ano, o equivalente a mais da metade das 35 milhões de toneladas fabricadas no Brasil.

No dia 7 de junho, o Banco do Povo da China realizou o primeiro corte de juros desde o fim de 2008. Nova redução foi anunciada menos de um mês depois, no dia 5 de julho, em um sinal de que as medidas de estímulo adotadas até então não estavam surtindo o efeito desejado.

Sob pressão. No domingo, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, afirmou que a economia chinesa estava sob "pressão" e prometeu medidas para sustentar o crescimento.

Dois dias mais tarde, o premiê declarou que a principal tarefa do governo é promover a expansão dos investimentos.

Nos últimos três anos, a principal fonte dos investimentos foram os empréstimos bancários, que cresceram de maneira exponencial e elevaram o volume de crédito de 150% do PIB em 2008 para 190% do PIB no ano passado.

Antes de atingir os 919,8 bilhões de yuans em junho, os novos financiamentos ficaram em 793,2 bilhões de yuans em maio. O dado também é superior aos 663,9 bilhões de yuans concedidos em junho de 2011.

Transição no poder. Estabilizar o ritmo de crescimento é prioritário para o Partido Comunista, que enfrentará no fim ano a transição de poder da atual para a futura geração de líderes chineses.

Se tudo correr como o esperado, Hu Jintao será substituído por Xi Jinping e Wen Jiabao entregará o poder a Li Keqiang.

Há uma feroz disputa entre as correntes do partido para o preenchimento das outras sete das nove posições do comitê permanente do Politburo, o grupo que detém o poder na China.