Título: Incentivo à indústria derruba inflação e juro pode cair mais até o fim do ano
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2012, Economia, p. B1

Além de aumentar as vendas, a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os automóveis funcionou como um forte freio à inflação oficial. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 0,36% em maio para 0,08% em junho, a menor variação de preços desde agosto de 2010, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na avaliação de economistas, o resultado abre espaço para mais cortes na taxa básica de juros, Selic, nos próximos meses. A Selic está em 8,5% ao ano e poderá ser reduzida na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, na semana que vem.

Com o corte do IPI desde 21 de maio, os preços dos carros novos recuaram 5,48% em junho, trazendo a reboque os veículos usados, que caíram 4,12%. Juntos, os automóveis foram responsáveis por uma queda de 0,26 ponto porcentual na inflação.

"Foi um efeito temporário", avalia o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. "Sem o corte do imposto, a inflação ficaria em torno de 0,30%, o que, para o mês, é alto."

Ele prevê que o Copom faça mais três cortes na taxa de juros este ano, a começar por uma redução de 0,50 ponto porcentual na reunião da semana que vem.

Em junho, a inflação acumulada em 12 meses manteve a trajetória de convergência para o centro da meta estipulada pelo governo para o ano - de 4,5%. Os preços administrados pelo governo têm contribuído para manter o IPCA sob controle. Segundo o IBGE, a inflação de bens e serviços monitorados passou de 0,32% em maio para 0,15% em junho, graças à deflação nos combustíveis e na energia elétrica.

Nos 12 meses encerrados em junho, a taxa dos preços monitorados está em 3,18%, bem abaixo do IPCA no período. Itens importantes no orçamento das famílias ficaram até mais baratos, como a gasolina (-1,12%) e a tarifa de telefone fixo (-1,38%). "A taxa dos preços monitorados está bem menor do que a de serviços, trazendo uma descompressão dos preços", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Serviços. Os aumentos de preços na alimentação fora de casa, aluguel residencial, condomínio, passagem aérea, conserto de automóvel e estacionamento, entre outros, pressionaram a inflação dos serviços, que voltou a ganhar fôlego em junho, com alta de 0,52%. Apenas este ano, os serviços já subiram 4,52%, enquanto o IPCA subiu 2,32%.

Os economistas preveem que a inflação volte a acelerar em julho, com pressões dos alimentos e bebidas, que já subiram 0,68% em junho, e uma compensação menor do grupo Transportes, que não deve repetir a queda de 1,18%. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, acha que o IPCA ficará em 5% no ano.