Título: China cresce 8% este ano e consegue afastar o risco de 'pouso forçado'
Autor: Trevisan , Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2012, Economia, p. B6

O governo chinês conseguiu estabilizar o ritmo de crescimento da economia, que deverá reagir no segundo semestre e fechar o ano com expansão próxima de 8%, no que será o menor patamar em mais de uma década. O aumento do crédito e dos investimentos em infraestrutura impulsionou a atividade nos últimos dois meses e evitou que a alta do PIB do segundo trimestre ficasse abaixo dos 7,6% divulgados ontem, o mais baixo índice desde o início de 2009.

O resultado do PIB chinês animou as bolsas, que fecharam em alta nos principais mercados. No Brasil a Bovespa interrompeu uma sequência de quatro quedas seguidas e terminou o dia no azul, com alta de 1,7%. O resultado foi influenciado pela alta das ações da Petrobrás após a notícia do reajuste do diesel e também das ações da Vale, que subiram 2,13% com a alta dos metais, decorrente dos números da economia chinesa.

"O risco de um pouso forçado da economia chinesa, que muitos no mercado temiam em março e abril está provavelmente superado, na medida em que os esforços de Pequim para impulsionar empréstimos e projetos de infraestrutura estabilizaram a situação", escreveu o economista-chefe do Credit Suisse para a China, Dong Tao, em nota sobre os dados de ontem.

Mais pessimista que a maioria dos analistas, Dong espera que o ano feche com expansão de 7,7%, o que implica a repetição do resultado do segundo trimestre no restante de 2012.

Bo Zhuang, da consultoria Trusted Sources, acredita que último trimestre foi o pior do ano. Em sua avaliação, o aumento de crédito bancário e de investimentos levará a uma modesta reação do crescimento no que resta de 2012.

O economista-chefe para a China do Stardard Chartered, Stephen Green, também espera reação nos próximos meses. Segundo ele, alguns dados de junho mostram fortalecimento da economia e apontam para um maior ritmo de atividade. Entre eles, Green mencionou os investimentos, que cresceram 21% em junho em relação a igual período do ano passado, acima dos 20% de maio.

Indústria. A produção industrial desacelerou de 9,6% para 9,5%, mas na comparação mês a mês o índice teve expansão de 0,76%, acima da média de 0,63% registrada em abril e maio.

As vendas no varejo continuaram robustas, na opinião de Green, com alta de 13,7%, pouco abaixo dos 13,8% registrados no mês anterior.

Os investimentos em infraestrutura se aceleraram em junho, com expansão de 18,7%, mais que o dobro dos 7,9% de alta de maio.

"Isso amenizou a moderação nos investimentos em manufatura e no setor imobiliário, que em junho desaceleraram para 24,7% e 11,8%, respectivamente, em relação ano passado, depois de ficarem em 25,1% e 18,2%, respectivamente, em maio", escreveu o economista-chefe do HSBC para a China, Qu Hongbin.

A variação na geração de eletricidade ficou próxima de zero em junho, o que contrasta com a expansão de 9,5% na produção industrial. Mas segundo o governo, isso se deve ao fato de que a desaceleração foi mais acentuada na indústria pesada, que é grande consumidora de energia, do que na indústria leve.

Economistas da Goldman Sachs ressaltaram que a diferença entre os dois segmentos ficou mais clara na comparação dos resultados de junho com o mês anterior. Entre esses dois períodos, a expansão da indústria pesada desacelerou de 15,0% para 13,4%, enquanto a da indústria leve passou de 5,6% para 9,8%.

Inflação. O analista do HSBC observou que a queda da inflação para 2,2% abriu espaço para uma política monetária mais agressiva e defendeu a necessidade de aumento de gatos públicos, corte de impostos e expansão do crédito para que a economia cresça a 8,5% nos próximos trimestres.

Qu previu redução em dois pontos porcentuais do depósito compulsório dos bancos até o fim do ano, o que liberaria bilhões de yuans para novos empréstimos. "Apesar dos sinais iniciais de que as medidas expansionistas já adotadas começam a funcionar, ainda há pressões negativas sobre o crescimento", observou.

O volume de financiamentos concedidos pelos bancos em junho teve alta de 16%, para 919,8 bilhões de yuans (R$ 295,1 bilhões), bem acima da média de 880 bilhões de yuans esperados por economistas entrevistados em pesquisa da agência Bloomberg. No dia 7 de junho, o Banco do Povo da China realizou o primeiro corte de juros desde o fim de 2008. Nova redução foi anunciada menos de um mês depois, no dia 5 de julho, em um sinal de que as medidas de estímulo adotadas até então não estavam surtindo o efeito desejado.