Título: O Senado em busca de um novo paladino da ética
Autor: Brito , Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2012, Nacional, p. A6

Na esteira da cassação de Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) na quarta-feira, um vazio político abriu-se no Senado: quem vai substituí-lo na tarefa de “paladino da ética”? O figurino do senador que cobra dos outros e de representantes dos demais poderes condutas exemplares, encenado principalmente por Demóstenes até vir a público a ligação dele como contraventor Carlinhos Cachoeira,aguarda alguém para vesti-lo.Apesar de nenhum dos consultados admitir que quer empunhar a bandeira,pelo menos nove–segundo seus pares–estão no páreo. A maioria dos colegas aponta Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) como principal candidato ao posto. Único representante do PSOL no Senado,ele ganhou projeção pública no primeiro semestre deste ano aopedir a perda de mandato de Demóstenes e exigir o aprofundamento das investigações da CPI do Cachoeira. A atuação tem lhe rendido elogios dos colegas, inclusive do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e críticas veladas de outros. O senador do PSOL disse que, embora tenha iniciado sua atuação no Senado com uma pauta voltada para a educação, “os fatos se impuseram”. No caso Demóstenes, coube ao PSOL entrar com representação por quebra de decoro,mesmo tendo buscado apoio do PT e do PDT para uma ação conjunta. “Não quero ser paladino,mas, se nós não representássemos,que outros partidos iriam representar?”, questionou. Randolfe disse que a tarefa não lhe agrada e sabe que pode entrar namira dos pares.

Outros nomes.Num patamar abaixo,encontram-se o veterano Álvaro Dias(PSDB-PR) e os novatos Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Pedro Taques (PDT-MT) e Ana Amélia (PP-RS). “Deus me livre deste carimbo”, rebateu Dias, dizendo que teve atuação voltada para o combate à corrupção desde a época em que governou o Paraná. Um dos maiores críticos do governo Dilma Rousseff,mas numa saia-justa no PSDB diante das acusações na CPI contra o governador tucano Marconi Perillo (GO),ele criticou o fato de os parlamentares que cobram atitudes éticas serem tachados de “udenistas”, jargão político usado para marcar um discurso falsamente moralista.“A corrupção foi banalizada”, afirma. Para Ferraço, todos precisam ter “consciênciados seus atos”. O capixaba chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar, em vão, garantir o direito de abrir seu voto na cassação de Demóstenes. A iniciativa foi criticada por colegas do próprio partido, que enxergaram oportunismo. Segundo parlamentares, há outros três que chegaram ao Senado com um discurso independente e combativo, mas, por causa das circunstâncias políticas, deixaram em segundo plano as cobranças de conduta:Eduardo Braga(PMDB), atual líder do governo, Jorge Viana(PT-AC) e Luiz Henrique (PMDB-SC), envolvidos desde o ano passado nas discussões sobre o Código Florestal, além de Walter Pinheiro (BA), que assumiu a liderança do PT. Para o senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM, não existe essa história de paladino da ética. Segundo ele, o que credencia os parlamentares a cobrar a conduta dos outros é ter uma “história limpa”. O ideal, afirmou, é que os 81 senadores cobrem-se uns aos outros .