Título: Medida pode impactar preço do etanol na bomba
Autor: Torres, Sérgio ; Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2012, Economia, p. B8

Para especialistas, a falta de políticas para o setor deixa as empresas vulneráveis a problemas conjunturais

Especialistas temem que o aumento da mistura de etanol na gasolina, neste momento de produção mais apertada, tenha reflexo no preço do biocombustível na bomba. Na opinião da advogada Beth Ramos, sócia líder da Ernst&Young Terco (empresa mundial de auditoria e consultoria) para a área de petróleo e gás, a mudança de 20% para 25% na gasolina tem de ser muito bem planejada. "Espero que haja planejamento e que a corda não arrebente para o lado da Petrobrás."

A opinião também é compartilhada pelo engenheiro Alfredo Szwarc, consultor técnico do setor sucroalcooleiro. Na avaliação dele, sem um plano prévio bem estruturado por parte do governo, o setor continuará à mercê de modificações geradas por crises financeiras internacionais e locais. "Havendo possibilidade de retorno ao nível de 25%, será uma iniciativa bem-vinda. Mas é preciso ter certeza de que existe disponibilidade de fato e como a medida será implementada. A questão não é apenas movimentar o mercado em 5% a mais ou a menos. É preciso definir o futuro a médio e longo prazos. Definir políticas que se perenizem. Senão ficaremos pulando de crise em crise."

Para o engenheiro de produção e consultor Cristiano Martins Guimarães, especialista em biocombustíveis, diferentemente do que ocorre no setor de petróleo e gás, é muito difícil calcular o quanto o setor sucroalcooleiro - e o Brasil - perde ou ganha com as mudanças de estratégias do governo federal ao longo dos últimos anos.

"Não há como quantificar as perdas que o País tem com a ausência de política pública para o setor sucroenergético, entretanto há como apontar essas perdas. O Brasil perde enorme geração de empregos no campo e impossibilita a continuidade de parte de sua indústria de base. O Brasil perde a chance de diminuir o risco hídrico de sua matriz energética. Não usa o poder que tem sobre o mercado mundial de açúcar. E perde a posição altamente vantajosa de ser um país continental com baixo consumo de combustível fóssil."

Para Martins Guimarães, a situação atual é consequência da indefinição do governo quanto a ações para desenvolver a produção de cana e biocombustíveis. Ele diz que "o que vai resolver a incerteza no mercado de álcool combustível é a formulação de política pública que crie estabilidade de receita para o setor. Sem isso, ninguém ousará investir em novos projetos".

O especialista observa que nos últimos anos, "com o governo controlando artificialmente o preço da gasolina", ocorreu "uma queda brutal no consumo de etanol hidratado". "O retorno do porcentual de 20% para 25% de anidro na gasolina não será suficiente para ajudar o setor a sair da crise. Mudar o porcentual de tempos em tempos não gera estabilidade."