Título: Diferença entre captação e amortização aumenta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2012, Economia, p. B2

Segundo dados divulgados pelo jornal Valor, a captação externa do Brasil no primeiro semestre atingiu US$ 30,6 bilhões, ante US$ 41,9 bilhões no mesmo período do ano anterior. O fato que merece mais atenção é que essa captação caiu 74% no segundo trimestre.

A emissão de bônus pelas empresas cresceu 7,8% no primeiro semestre, enquanto os empréstimos caíram de US$ 13,6 bilhões para apenas US$ 200 milhões.

Diversos fatores explicam essa evolução. A crise dos países do Primeiro Mundo levou as instituições financeiras a ter grande cautela nos seus financiamentos externos. Por isso preferiram comprar bônus de grandes empresas, bem classificadas pelas agências, a correr riscos com empresas que são ignoradas pelas agências de classificação.

No caso brasileiro, uma decisão do governo foi decisiva para descartar empréstimos a empresas de menor porte: criou-se um IOF sobre empréstimos de prazo inferior a cinco ano, o que aumentou o risco para os credores, que não estão acostumados a oferecer a pequenas empresas empréstimos por tempo tão grande. É interessante notar que essa exigência privou as empresas de menor porte do acesso ao mercado financeiro internacional no momento em que mais precisavam de recursos. Em contrapartida, as grandes empresas aproveitaram-se do momento para colocar bônus no mercado externo, contribuindo para a elevação da dívida externa.

O Brasil tem contado mais com os investimentos estrangeiros diretos para compensar o déficit das transações correntes do balanço de pagamentos, que até o final de maio somava US$ 23,2 bilhões líquidos. O problema do Brasil, ao qual não está se dando grande atenção, é o forte recuo, neste ano, da relação entre empréstimos (inclusive emissão de bônus) e amortização. Nos cinco primeiros meses do ano, a amortização dos empréstimos ficou em US$ 17,5 bilhões. Estima-se que, no final do exercício, chegará a US$ 41,1 bilhões. Mantida a tendência verificada no segundo trimestre, quando foram captados apenas US$ 6,5 bilhões, o Brasil terá de recorrer a suas reservas para pagar as amortizações.

Dois fatores explicam o recuo das captações: de um lado, estando a economia desaquecida, as empresas restringem seus empréstimos no mercado externo; de outro, a excessiva flutuação da taxa cambial leva as empresas a captarem recursos externos com maior cautela.