Título: Engenheiros continuam reféns de índios em Belo Monte
Autor: Lessa, Fátima
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2012, Economia, p. B4

Não há previsão para a liberação dos três engenheiros da área socioambiental da Norte Energia, empresa responsável pela construção e operação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em Altamira do Pará, detidos desde a manhã de terça-feira na aldeia Muratu, na Volta Redonda do Xingu, em Altamira do Pará, por índios jurunas e araras.

Por telefone, Giliarde Juruna, da Terra Indígena Paquiçamba, disse que eles temem a intervenção da Polícia Federal. "Se eles tentarem entrar na aldeia onde os engenheiros estão detidos vai haver briga." Os engenheiros realizavam reunião sobre os mecanismos que a empresa pretende oferecer para transpor embarcações após o barramento completo do Xingu na altura do canteiro de obras de Pimental. A linguagem muito técnica teria irritado as lideranças.

De acordo com o Ministério Público Federal, que esteve na reunião, logo no início das explanações os indígenas já manifestaram desacordo com o processo, pois as explicações dos engenheiros eram muito técnicas e de impossível compreensão.

A procuradora do Ministério Público Federal do Pará, Thais Sant, que participava da reunião, disse que "a uma certa altura, os próprios engenheiros reconheceram que a reunião era absurda, que aquilo não era oitiva, que a Funai não poderia considerar a reunião como tal, e que o projeto técnico que estavam apresentando não fazia nenhum sentido".

"Nós não vamos liberar ninguém enquanto não estiver tudo encaminhado, com relação às condicionantes", disse Giliarde. Segundo ele, hoje deve haver outra reunião com representantes da Funai, do Ibama e da empresa Norte Energia. Além de as condicionantes estarem sendo descumpridas e serem insuficientes, são mal fiscalizadas pelo Ibama, disse a procuradora Sant.

A reunião de terça-feira era a primeira das quatro programadas de consultas às populações indígenas e ribeirinhas que ficarão sem acesso fluvial a Altamira. As consultas são uma condição para que a Funai faça um parecer que autorize ou não a conclusão do barramento, a ser apresentado ao órgão ambiental.