Título: Já faltam tanques para estocar gasolina no País
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2012, Economia, p. B3

Faltam caminhões e trens para abastecer os postos do interior e unidades de MS e MT já enfrentam escassez

A Petrobrás precisa baixar a importação de gasolina com urgência não só para cortar custos. A logística de recebimento das cargas cada vez maiores do combustível tem limite. Se chegarem 100mil barris por dia, a empresa não terá mais como fazer com agilidade a retirada da gasolina das embarcações para os portos e terminais,nem armazenamento e distribuição. Faltarão tanques,meios de transporte, espaço portuário e até pessoal.

O aumento da demanda já provoca restrição de oferta.A BR Distribuidora (subsidiária da petroleira) está com dificuldades desde a semana passada para abastecer os postos no interior do País. Não falta combustível, mas sim caminhões e trens para levá-lo aos clientes que consomem cada vez mais. Dezenas de postos no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso enfrentam problemas de escassez de diesel e gasolina. Em nota, a BR afirmou que o problema na região ocorreu por "complicações logísticas", geradas com o aumento da demanda. A empresa garantiu também que está aumentando o volume de produtos para a região por via rodoviária e que espera regularizar a situação nos próximos dias.Segundo a BR, o problema é pontual e não há desabastecimento. Mas começama aparecer as dificuldades de se acompanhar um crescimento da demanda de gasolina que neste ano chegoua registrar altas mensais acima de 35% em relação a 2011.

Dilema. O limite da Petrobrás ficou perto de ser atingido em dezembro, quando a estatal importou 90 mil barris diários, por causa do aumento do consumo interno e pela insuficiência da produção nacional de gasolina. Mesmo perdendo dinheiro, já que o preço da gasolina no Brasil não acompanha os aumentos internacionais, a Petrobrás não pode interromper a importação, sob risco de causar o desabastecimento domercado brasileiro.

Procurada pelo Estado, a petroleira informou que"as instalações existentes atendem às demandas atuais e os planos da companhia contemplam as necessidades futuras". Baixar as quantidades importadas passou a ser um objetivo importante da empresa. De janeiro a abril deste ano, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo,Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foram importados 70,9mil barris diários de gasolina. Amédia baixou para 63,7mil barris por dia entre janeiro e maio. O problema é que no fim do ano a demanda tende a aumentar. Meses de férias escolares tradicionalmente apresentam demanda elevada, com o aumento de viagens interestaduais. Períodos de escoamento de safra também podem levar a picos de consumo de diesel. Até lá, a companhia espera ter reduzido a importação para suportar o período do pique de consumo. O gargalo logístico fez a presidente da Petrobrás, Graça Foster, endurecer os entendimentos com distribuidoras como Shell eRepsol, exigindo mais investimentos e participação no escoamento dos produtos.

Até agora, não havia rigor na cobrança dos deveres das distribuidoras com tancagem, por exemplo,mesmoque em contrato. As empresas deixavam de construir os tanques e a Petrobrás compensava a limitação com aumento da frequência da viagem de seus navios. Desde que assumiu, Graça vem revendo a logística: determinou que as distribuidoras cumpram as exigências contratuais e a cobrança sobre os contratos que estão sendo renovados tem ficado mais rígida. "Isso reflete o aumento da demanda interna e da necessidade de entrega", disse o presidente do sindicato das distribuidoras, Alisio Vaz.